Can't Be Friends

Limites do pós-romance em “Can't Be Friends”, de Trey Songz

Em “Can't Be Friends”, Trey Songz narra o depois de um romance que nasceu de uma amizade e tornou impossível voltar ao começo. O refrão funciona como mantra de arrependimento: “And I wish we never did it / And now it ain't no way we can be friends” (E eu queria que nunca tivéssemos feito isso / E agora não tem como a gente ser amigos). Ele admite o ímpeto que atropelou os dois — “We were movin' just a little too fast” (A gente estava indo um pouco rápido demais) — e encara o irreversível: “What we've done we can't take it back” (O que fizemos não dá para desfazer). O verso “Ain't no way in hell that I can be just friends with you” (De jeito nenhum eu consigo ser só amigo de você) deixa claro que o vínculo físico e emocional impede o retorno. Há duplo sentido em “wish we never did it” (queria que nunca tivéssemos feito isso): pode ser o sexo que mudou tudo ou a decisão de cruzar a fronteira da amizade. Quando diz “I know she still thinks about me too” (Eu sei que ela ainda pensa em mim também), revela apego e uma esperança que o deixa “halfway crazy” (meio fora de si).

A produção reforça essa confissão com melancolia contida. O sample de “Bibo no Aozora”, de Ryuichi Sakamoto (também presente em Babel), cria um clima suspenso que combina com a sensação de estar preso entre passado e presente. A composição de Trey Songz com Mario Winans aposta em linguagem coloquial e repetição para realçar o peso do arrependimento. No clipe minimalista — Trey sentado, ambiente escuro, presença discreta de uma mulher — há ecos da estética de “Confessions Part II” e “Trading Places”, enfatizando o conflito interno. Inserida em Passion, Pain & Pleasure, a faixa entrega a tríade do título: paixão que passou do ponto, dor do fim e lembranças que impedem a amizade. O sucesso de 13 semanas no topo do R&B mostra como esse dilema é amplamente reconhecível.