Beldia

Realidade urbana e sobrevivência em "Beldia" de TRZ

Em "Beldia", TRZ utiliza o termo que, além de ser uma gíria para haxixe marroquino de alta qualidade, simboliza desejo, poder e sobrevivência no universo do tráfico. A letra traz imagens fortes e realistas, como “Ça sort des égouts du Grand Est” (Isso sai dos esgotos do Grand Est) e “Chevalier noir dans la tempête” (Cavaleiro negro na tempestade), conectando sua trajetória à vida difícil dos subúrbios franceses, especialmente em Nancy, chamada de “capitale des ténèbres” (capital das trevas). O artista recorre a metáforas de guerra e inferno para mostrar o cotidiano violento e a sensação de solidão, mesmo rodeado de pessoas: “Y a du monde mais j'suis seul dans la pièce” (Tem gente, mas estou sozinho na sala).

A repetição de “Tu voulais des kilos de Beldia” (Você queria quilos de Beldia) destaca tanto a busca pelo lucro fácil quanto a armadilha do próprio sistema do tráfico, onde todos desejam a mercadoria, mas poucos escapam das consequências. Referências como “Après Gibraltar, le kilo, il a pris mille balles” (Depois de Gibraltar, o quilo ficou mil euros mais caro) apontam para as rotas internacionais do tráfico e o aumento dos riscos e preços. Já “L'argent du haram véhicule très noir, Sheitan qui conduit” (O dinheiro do proibido, carro muito preto, Satã que dirige) mistura religião, culpa e a ideia de que o dinheiro ilícito é guiado pelo diabo. O tom direto e o uso de gírias reforçam a crítica social de TRZ sobre a falta de oportunidades, a pressão policial e a normalização da ilegalidade como forma de sobrevivência nos bairros marginalizados.