Homiesexual (feat. Daniel Caesar)

Ciúme velado em “Homiesexual (feat. Daniel Caesar)”

O trocadilho do título Homiesexual não trata de orientação sexual; é a forma de Ty Dolla $ign e Daniel Caesar rebaixarem o novo parceiro dela a “homie” (parça, quase-amigo) enquanto admitem que a relação pode ir além do platônico. Essa ambiguidade sustenta o jogo entre aceitação e negação: eles dizem “I ain’t judging” (Eu não tô te julgando) e “I really hope you’re happy” (Eu realmente espero que você esteja feliz), mas invalidam o novo vínculo ao sugerir que ela está “fronting” (fazendo pose), fingindo celibato, quando “I know you like it nasty” (Eu sei que você gosta de sacanagem). A dinâmica é de desejo aceso, ciúme contido e um controle simbólico via intimidade: “I know you better maybe than you know yourself” (Talvez eu te conheça melhor do que você mesma), além de imagens explícitas como “I’m grabbing your throat” (Eu tô agarrando sua garganta) e “end up back inside you” (acabar dentro de você de novo). O refrão repetido sublinha a fachada de maturidade: aceitam em palavras, mas o subtexto é apego e posse.

Na narrativa, Ty fala direto com a ex: reconhece que ela seguiu com “someone else” (outra pessoa), cutuca suas escolhas e a máscara de santidade, “one that’s celibate” (alguém que é celibatário). Ele assume falhas — “I know you… caught me in some lies” (Eu sei que você... me pegou em algumas mentiras), “I’m not perfect” (Eu não sou perfeito) — e compara com a hipocrisia de “people in churches” (pessoas nas igrejas). Também evita briga: “we ain’t gotta do the back and forth… like a versus” (não precisamos desse vai e volta... tipo um Verzuz). Já Daniel Caesar entra com nostalgia e a inevitabilidade do retorno: “Take time to reminisce / Despite your efforts I’m gon’ end up back inside you / Yesterday, tomorrow, always” (Tira um tempo para relembrar / Apesar dos seus esforços, eu vou acabar dentro de você de novo / Ontem, amanhã, sempre). O clima é íntimo e carnal, com repetição que martela o estado geral: aceitação performática na superfície e, por baixo, desejo, ciúme e a confiança de que eles ainda a conhecem — e a satisfazem — melhor que qualquer “homie” (parça).