MANIFESTO (feat. Domo Genesis)

Ironia e crítica social em “MANIFESTO (feat. Domo Genesis)”

Em “MANIFESTO (feat. Domo Genesis)”, Tyler, The Creator faz uma crítica direta às pressões sociais enfrentadas por artistas negros, especialmente quanto à expectativa de militância e comportamento público. Logo no início da faixa, Tyler ironiza a cobrança para que ele se posicione sobre questões raciais, respondendo de forma debochada à exigência de que "precisa dizer algo sobre isso". Essa postura revela sua insatisfação com a superficialidade das cobranças públicas e a hipocrisia de quem segue padrões sem reflexão. Um exemplo claro está no verso: “That ain't in your religion, you just followin' your mammy / She followed your granny, she obeyed master / Did y'all even ask her?” (Isso não está na sua religião, você só está seguindo sua mãe / Ela seguiu sua avó, que obedeceu ao senhor / Vocês ao menos perguntaram a ela?). Aqui, Tyler questiona a aceitação passiva de crenças e comportamentos herdados, defendendo a importância do pensamento crítico e da individualidade.

A música também funciona como um acerto de contas com o próprio passado de Tyler. Ele menciona seus tweets polêmicos sobre Selena Gomez e a cultura do cancelamento: “I was canceled before canceled was with Twitter fingers” (Fui cancelado antes de cancelamento ser coisa de dedo no Twitter). Tyler reconhece seus erros, mas ironiza a obsessão da internet em reviver antigas polêmicas, mostrando que já enfrentava críticas antes mesmo do termo "cancelamento" se popularizar. Domo Genesis amplia o debate ao abordar o racismo sistêmico e a violência histórica contra negros, como em “Black bodies hanging from trees, I cannot make sense of this” (Corpos negros pendurados em árvores, não consigo entender isso). Juntos, os artistas expõem a tensão entre a cobrança por ativismo e a busca por autenticidade, questionando se suas ações são suficientes ou sempre serão alvo de julgamento: “Am I doin' enough or not doin' enough?” (Estou fazendo o suficiente ou não estou fazendo o suficiente?). O tom direto, crítico e irônico da faixa reforça a complexidade da luta por identidade e respeito, marcada por contradições e pela resistência a fórmulas prontas.