Zero Mancada (part. C'97)

Lealdade e ascensão em "Zero Mancada (part. C'97)"

"Zero Mancada (part. C'97)" apresenta um código de lealdade: não vacilar com os seus, na rua ("pista") e na quebrada ("morro"). A imagem de "trem descontrolado" condensa a ideia de uma ascensão que virou força inevitável e também serve de aviso: quem atravessar é atropelado. O contexto reforça: produzida por Pile Beats — apresentado como novo integrante do Blakkclout —, a faixa nasce do cotidiano das comunidades do Rio, destacando amizade real e postura de grupo. Isso aparece em "Matilha de lobo / Zero mancada na pista, zero mancada no morro" e na meta clara: "não é pra ser melhor que ninguém... nós só quer o valor que nós tem", isto é, reconhecimento sem pisar em ninguém.

A narrativa transforma rejeição em motor ("Rejeição é o maior combustível"), valoriza frieza estratégica ("me mantive frio") e disciplina ("Postura nós mantem, o tempo todo") até a virada: "Hoje eu levo essa vida de artista / Ontem era vida de criminoso". As grifes Nike e Gucci entram como troféus de conquista, não como fim, reforçadas por "Conquisto o meu sem invejar o de você". C'97 soma marra e cobrança contra falsos ("Joga esses falsos na mala e some"), enquanto Tz da Coronel — com voz marcante e flow direto, traços pelos quais já é conhecido — crava lealdade à tropa ("Deixo a minha tropa todinha no topo") e gratidão ("amém, agradeço ao senhor"). Os duplos sentidos ampliam a leitura: "Tenho o pente cheio e o coração vazio" remete ao pente da arma e à blindagem emocional; "pista" é rua e também o jogo da música; "trem", no falar do RJ, é "coisa", reforçando a ideia de força avassaladora; "Queimo essas grama todinha no fogo" aponta para consumo de erva e, por extensão, para queimar pressões do passado. No fim, sobram resiliência de favela, lealdade de "matilha" e a busca por respeito com zero mancada no corre.