Belladonna

“Belladonna”: paixão envenenada e afastamento silencioso

O título não é só um nome próprio: “Belladonna” remete à planta que embeleza e envenena, espelhando um amor que seduz e depois corrói. A letra insinua envenenamento literal — “the tea so delicately laced / the fingers of poison” (o chá delicadamente envenenado / os dedos do veneno) — e, ao mesmo tempo, usa essa imagem para falar de uma relação intoxicada, em que o encanto inicial traz a dor que fica.

No plano narrativo, o vínculo “came from passion” (nasceu da paixão), ganhou forma e, aos poucos, se partiu até o afastamento: “Out of reach, out of touch, how you’ve learned to hate so much” (fora do alcance, fora de contato, como você aprendeu a odiar tanto). Sinais de ruptura aparecem na “open letter just carelessly placed / moving silence” (carta aberta deixada de qualquer jeito / silêncio em movimento), sugerindo uma separação quase cerimonial. Ela observa “with such grace / Now I must slip away” (com tanta elegância / agora preciso me afastar), num jogo sutil de poder que transforma carinho em rancor. A chuva e a ideia de “agulhas” do veneno intensificam a frieza: cada lembrança espeta, enquanto o refrão repete a distância que vira ódio aprendido.

A dor contida ganha força no arranjo de violão, baixo e piano e na interpretação emotiva de Phil Mogg. A melancolia introspectiva faz “Belladonna” se destacar em No Heavy Petting (1976). O contraste entre a delicadeza sonora e o tema corrosivo ajuda a explicar por que, mesmo sem ter sido single, a faixa virou favorita dos fãs: uma balada sobre o momento em que o amor se torna tóxico e distante, deixando uma marca difícil de apagar.