A Liberdade (Intro) (part. Marcinha do Corintho)

Resistência e ancestralidade em “A Liberdade (Intro)” de Urias

Em “A Liberdade (Intro) (part. Marcinha do Corintho)”, Urias faz uma crítica direta à falsa promessa de inclusão e igualdade social. A recusa da narradora em ser aceita na chamada "casa da Liberdade" expõe como, na prática, espaços que se dizem abertos continuam excluindo pessoas marginalizadas, especialmente travestis e pessoas trans. A participação de Marcinha do Corintho, figura histórica da resistência LGBTQIA+ no Brasil, reforça essa conexão com a luta de quem, mesmo após enfrentar muitos desafios, ainda é impedido de acessar o que a sociedade considera "civilização" e "cultura". A imagem da casa no alto, com colunas e bandeira, simboliza instituições de poder e evidencia que a liberdade, muitas vezes, é tratada como privilégio, não como direito universal.

No trecho final, quando a narradora opta por se afastar da casa "habitada apenas por ilusões e engodos" e retorna ao mar, a letra traz uma forte simbologia de ancestralidade e resistência. O mar representa o retorno às origens, à força dos orixás e à cultura afro-brasileira, temas centrais do álbum "Carranca". A ideia de vingança aqui é coletiva: é a resposta de quem foi rejeitado por sistemas opressores e decide buscar liberdade em suas próprias raízes, rejeitando as falsas promessas da sociedade dominante. Assim, “A Liberdade (Intro)” abre o álbum como um manifesto de resistência, desmascarando a hipocrisia da liberdade institucionalizada e celebrando a força de quem constrói sua própria liberdade a partir da dor e da exclusão.