Deus (part. Criolo)

Herança e resistência em "DEUS (part. Criolo)" de Urias

Em "DEUS (part. Criolo)", Urias aborda a dor causada pelo apagamento religioso e cultural sofrido pelos povos africanos durante a colonização brasileira. O verso repetido “Levaram Deus e é por isso que eu não amo nunca mais” expressa a perda de uma identidade espiritual, mostrando que o "Deus" citado representa muito mais do que uma figura religiosa: simboliza toda uma herança cultural arrancada à força, deixando marcas profundas de vazio e revolta. O uso de um sample de canto folclórico negro brasileiro reforça a ligação com as raízes afro-brasileiras e destaca a importância da ancestralidade e da memória coletiva na construção da identidade.

A letra traz referências simbólicas como “sete instrumentos, sete dias, sete pragas”, que dialogam tanto com elementos da religiosidade africana quanto com narrativas bíblicas, evidenciando o choque e a sobreposição de culturas. Quando Urias e Criolo questionam “Seu Deus é quem? Você matou e disse amém”, denunciam a violência da imposição religiosa e a hipocrisia de quem destruiu outras crenças em nome da fé. Termos como “quizumba” e menções à vaidade apontam para a resistência e o orgulho de manter vivas as tradições afro-brasileiras, mesmo diante do apagamento histórico. Assim, a música se apresenta como um lamento, mas também como um manifesto de afirmação identitária e denúncia das injustiças sofridas.