Interlude

Desigualdade e resistência em "Interlude" de Urias

Em "Interlude", Urias aborda de forma direta as dificuldades de ser uma mulher trans e negra no cenário musical brasileiro, onde artistas cisgêneros e brancos ainda têm mais oportunidades. No verso “tirando dinheiro até da minha saúde pra completar dinheiro de videoclipe”, ela revela o sacrifício extremo necessário para produzir sua arte, mostrando que, para ela, o esforço vai além do comum e chega a comprometer o próprio bem-estar. Esse relato contrasta com a facilidade de acesso e reconhecimento de artistas privilegiadas, como Urias aponta ao dizer: “a gata é cis ou porque a gata é branca ou até os dois junto, ela sempre vai tá disfrutando mais”. Com isso, ela denuncia a desigualdade estrutural do mercado musical, onde o esforço de artistas como ela é frequentemente desvalorizado em comparação ao de quem já nasce em posição de vantagem.

Urias também expressa frustração ao ver artistas com mais recursos entregando trabalhos “medíocres” e, mesmo assim, recebendo reconhecimento e visibilidade. Ela questiona a ideia de que números – como seguidores e dinheiro – definem o valor artístico, defendendo que o verdadeiro impacto está no comprometimento e na autenticidade. O tom confessional de frases como “eu sei aonde meu trabalho tá, entendeu?” aproxima o ouvinte de sua experiência pessoal, transmitindo sentimentos de raiva, cansaço e orgulho. Assim, "Interlude" se destaca como um manifesto de resistência, autovalorização e luta por reconhecimento em um ambiente marcado por desigualdades.