Oração (Interlúdio) (part. Marcinha do Corintho)

Resistência e ancestralidade em “Oração (Interlúdio) (part. Marcinha do Corintho)”

Em “Oração (Interlúdio) (part. Marcinha do Corintho)”, Urias utiliza imagens como “ondas” e “céu ameaçador” para remeter à travessia forçada dos povos africanos escravizados, tema central do álbum “Carranca”. A referência ao naufrágio e às lágrimas reforça o sofrimento histórico, mas a promessa de “voltaremos / Deslizando em um mar calmo” traz esperança e sugere a busca por reconexão com as origens. Essa mensagem se conecta à proposta do álbum de resgatar raízes africanas e valorizar a força da liberdade. O contexto do disco, inspirado na carranca como símbolo de proteção espiritual, aparece na oração que pede a Deus para “afaste a praga do meu povo”, expressando o desejo de renovação e proteção após o sofrimento coletivo.

A citação aos “altos platôs da Etiópia” carrega um significado ancestral, já que a Etiópia é vista como berço da humanidade e símbolo de resistência africana. Ao imaginar um retorno a esse lugar onde “ninguém conhece a palavra raça” e “existe apenas uma lei / Do amor”, a música propõe uma utopia de igualdade e cura coletiva. O trecho “comer juntos / De vasos quebrados” simboliza a reconstrução da comunidade a partir das cicatrizes do passado, agora em paz. Narrado por Marcinha do Corintho, o interlúdio se torna um momento de reflexão e esperança, guiando o ouvinte pelos caminhos da resistência, ancestralidade e transformação do sofrimento em amor, temas centrais do álbum e da trajetória do povo retratado na letra.