Orula

Provocação e sincretismo espiritual em “Orula” de Victor Mendivil

"Orula", de Victor Mendivil, chama atenção por unir referências espirituais profundas a uma postura provocativa e irônica. A música faz menção direta a Orunmila (Orula), divindade iorubá ligada à sabedoria e ao destino, conectando o sucesso do artista a uma intervenção espiritual: “Estoy en número uno, fue por la mano de Orula” (Estou em primeiro lugar, foi pela mão de Orula). Isso sugere que sua ascensão não depende apenas do próprio esforço, mas também de forças místicas. Ao mesmo tempo, Mendivil brinca com a dualidade entre o sagrado e o profano, como no verso “Satanás me ayuda mucho, creo que ya se dieron cuenta” (Satanás me ajuda muito, acho que vocês já perceberam), ironizando a ideia de que o sucesso pode vir tanto de bênçãos quanto de pactos obscuros.

A letra traz uma mistura de referências culturais e religiosas, como o uso de ayahuasca em rituais peruanos, menções a textos hebraicos, o “tercer ojo” (terceiro olho) e figuras como Belcebú, além de personagens da cultura pop, como o “Equipo Rocket” e Ten Shin Han. Essa combinação cria um ambiente de sincretismo e transgressão, onde Mendivil se apresenta como alguém que circula entre o espiritual, o material, o real e o virtual. O verso “No son de porcelana ni uso un crucifijo / Por eso el diablo ayuda a escoger todo lo que elijo” (Não são de porcelana nem uso um crucifixo / Por isso o diabo ajuda a escolher tudo o que escolho) ironiza a religiosidade tradicional e sugere uma busca por autenticidade fora dos padrões convencionais. Ao citar práticas e figuras de diferentes tradições, Mendivil questiona a hipocrisia social e a superficialidade das crenças, mostrando autoconfiança e domínio sobre seu destino, sempre com sarcasmo e crítica social.