It Only Cost Everything

Recaída e responsabilidade em “It Only Cost Everything”

Mais do que um lamento amoroso, “It Only Cost Everything” é uma confissão de cumplicidade: ele sabe que o romance é tóxico e, ainda assim, abre a porta de novo. A ironia do refrão, “It only cost everything” (só custou tudo), escancara o preço da recaída. Já “I’ll take the blame, I let you in” (eu assumo a culpa, eu deixei você entrar) traduz culpa em responsabilidade — eixo que o próprio lançamento do single destacou: como a gente permite que relações viciantes avancem.

A narrativa é linear. Ele acha que aprendeu, “I thought I learned my lesson” (achei que tinha aprendido a lição), tenta se reorganizar, “rebuilding all of the bridges/learning from mistakes” (reconstruindo todas as pontes/aprendendo com os erros), e posa de bem, “telling people I’m alright” (dizendo às pessoas que estou bem). Mas os velhos padrões e mentiras voltam quando o outro “sneaks back inside” (se esgueira de volta para dentro). Em “you are my sweet addiction” (você é meu doce vício), o “você” é tanto a pessoa quanto a dependência em si, que reaparece nos “holes” (buracos) da vida. O tom é de derrota lúcida, quase um inventário do que se perdeu por não sustentar os próprios limites.

Musicalmente, o soul clássico com R&B contemporâneo — em registro próximo a Michael Kiwanuka e Sam Smith — dá calor e elegância a uma história amarga, realçando a melancolia sem melodrama. A estética combina com a trajetória de Victor Ray como artista de rua, que lapidou um canto íntimo e próximo, perfeito para uma confissão à queima-roupa. A canção gira em ciclo — recomeço, autoengano, recaída, assunção do erro — e deixa uma mensagem direta: reconhecer a dependência afetiva não basta; se você der passagem de novo, paga o preço total.