Front (part. Nocivo Shomon)

Resistência da quebrada em “Front (part. Nocivo Shomon)”

“Front (part. Nocivo Shomon)” coloca a quebrada na “linha de frente”: Vietnã transforma o cotidiano em campo de guerra, oscilando entre denúncia e a tentação da retaliação. A abertura flagra a brutalidade policial e a negligência do Estado (“polícia tirando a dignidade...”; “o Estado transformando pessoas... em pessoas frustradas”), ligando isso à falta de oportunidade que empurra para o crime (“Torço pro meu filho também não virar ladrão”). Em clima eleitoral, há ceticismo com promessas (“é época de eleição... progresso sem previsão”) e com quem consome a favela pela TV sem agir (“Se curte a favela da tela... faz nada por ela”).

As metáforas de guerra reforçam o cerco: “vivo a ferro e fogo”, “elefante na sala” e “C4 com laço de fita” simbolizam resposta extrema; a própria letra freia o impulso ao admitir “Vingança é uma droga maldita, vicia quando se aprende”, reconhecendo o ciclo de violência. “Quebrada fábrica de ouro, só falta liga da corrente” resume potencial bloqueado por ausência de investimento, enquanto “tsunami são os porcos no poder” aponta o sistema como causa do desastre. A narrativa é coletiva e combativa: “Diz que representa a quebrada, não entende o problema da gente”. O alvo inclui Estado (“Me diz quem vai pagar a conta da verba que sempre some”), mídia (“Quem controla a informação?”) e a desigualdade penal (“Rico tirando cadeia...”); a sobrevivência impõe “instinto de caça”, “pilantra não passa” e “ou é retalhado, ou retalha”. Filmado na Favela do Borracha (Zona Sul de SP), o clipe reforça o retrato real, inclusive na imagem de enchente (“a favela vai alagar”). No fim, a parceria vira convocação — “quebrada open the door” (quebrada abra a porta) — para transformar revolta em pressão coletiva por mudança.