Lamento Número 2

Solidão e crise de identidade em "Lamento Número 2"

"Lamento Número 2", de Visconde, mergulha em uma crise de identidade marcada pela sensação de alienação de si mesmo. Logo nos primeiros versos, "Eu desaprendi a ser eu / Não penso mais como eu", a música revela um sentimento de desconexão interna, refletindo o contexto de introspecção e solidão vivido por Lucas Silveira durante a composição. O esgotamento emocional e a dificuldade de se relacionar, tanto consigo quanto com os outros, aparecem em versos como "Coexistem aqui / Duas versões de nós / Que já perdemos a voz / Tão cansados, tão sós / Fingindo sorrir / A todos que passam". Essa duplicidade mostra uma luta interna, em que diferentes versões do eu convivem, mas nenhuma consegue se expressar plenamente ou encontrar alívio.

A música também aborda o isolamento social e a sensação de inadequação, especialmente em "Não tenho assunto com os meus amigos / Se falam, finjo que não é comigo". O medo de não corresponder às expectativas e a desconfiança diante de elogios, vistos como falsos ou apenas tentativas de consolo, reforçam o sentimento de deslocamento: "Não sei reagir / E acho que querem me enganar / Ou então, me confortar / Todos com pena no olhar". No trecho final, "De tanto achar que o dia vai chegar / Que eu vou ser do time que sabe ganhar / Rasguei calendário, não queria ver / O dia e a hora certos de me render", a frustração diante das expectativas não cumpridas e o cansaço de esperar por mudanças se tornam evidentes. A referência à embriaguez pode ser entendida tanto de forma literal quanto como metáfora para o torpor emocional, mostrando como os sonhos parecem cada vez mais distantes. Assim, a canção constrói um retrato honesto da solidão e da busca por sentido em meio ao esgotamento.