Toma Cuidado Moço

Força protetora em "Toma Cuidado Moço", da rua ao axé

Em "Toma Cuidado Moço", a voz que conduz a narrativa é a de uma guardiã de rua: proteção maternal, mas com lâmina na mão. Maria Navalha toma a palavra e transforma o medo do "moço" em manual de sobrevivência, mostrando que conhece o jogo da malandragem e a volta do mundo. Isso dialoga com a assinatura espiritual de Vitorinha de Oxum: o nome remete à orixá de proteção doce e firme, e em outra faixa ("Abre a Roda que Chegou Rosa Caveira") a artista convoca uma entidade de umbanda ligada à força e à guarda. Aqui, o chamado "meu filho" ganha peso de filiação de terreiro: "Não se preocupe não, pois tu és meu protegido! Eu sou Maria Navalha e te livro dos inimigos!".

As imagens-chave explicam a ética e as armas dessa proteção. "A minha Navalha eu afio na língua de falador" tem duplo sentido: a lâmina literal, pronta para defesa, e a palavra cortante que cala fofoca e calúnia ("Quem muito fala, pouco faz"). "O mundo é que dá voltas" aponta para a justiça do tempo e do axé: quem mexe com o protegido vai pagar a conta — "na minha mão tu vai sambar", isto é, sofrer as consequências e dançar conforme a música dela. Entre afeto e ameaça, surge um zelo feroz e confiante: ela se assume guardiã de um "filho" e avisa aos malandros que a malandragem maior está do lado dela. No conjunto, é um canto de proteção e cobrança em que tradição afro-brasileira, rua e linguagem afiada se unem para garantir que o moço não ande sozinho — e que respeitem quem o guarda.