The Devil's Bleeding Crown

“The Devil's Bleeding Crown”: poder ferido e ciclo tirano

Em “The Devil’s Bleeding Crown”, a coroa não é troféu, é ferida aberta: prova de um poder amaldiçoado e cobrado em sangue. Quando surge “The devil’s spawn no longer breathes” (a cria do diabo não respira mais), a ideia é de linhagem interrompida, não de fim da tirania, pois “the horned one is back and he wants his crown” (o de chifres voltou e quer sua coroa). A justaposição “descending angels and fallen kings” (anjos que descem e reis caídos) mistura o sagrado e o secular para marcar colapsos de autoridade. A linguagem ritual reforça esse tom: “bless the goat” (abençoem o bode) acena ao bode/Baphomet, enquanto citações a Astaroth e à deusa suméria Inanna expandem a trama para além do cristianismo, como um ciclo universal de poder e corrupção entre panteões. O batismo violento de “baptized in the fire hole” (batizado no fosso de fogo) dialoga com o fascínio de Michael Poulsen por horror e sobrenatural, influência que ele próprio já mencionou ao compor letras mais sombrias.

A canção sugere um império espiritual e político em ruínas, com rituais para reerguer o domínio infernal. O quadro “They gathered all the children outside the church / Close the door and hear all the angels scream” (Eles reuniram todas as crianças do lado de fora da igreja / Feche a porta e ouça todos os anjos gritarem) admite duas leituras: cena de horror às escondidas e crítica à hipocrisia institucional que encobre violência em espaços sagrados. O clipe de Plastic Kid, com rebeldes enfrentando força opressora, acrescenta a camada de insurreição. No refrão, “Raise your hands, what do you hold? The devil’s bleeding crown!” (Ergam as mãos, o que vocês seguram? A coroa sangrando do diabo!) soa como teste de lealdade e alerta: levantar as mãos pode perpetuar ou romper o ciclo. Mesmo quando a prole cai, o tirano retorna — e a coroa continua sangrando porque esse poder nunca é limpo.