Paperbond

“Paperbond”: luxo, trabalho contínuo e solidão no topo

O título “Paperbond” é um trocadilho certeiro: “paper” é dinheiro e também o papel de enrolar, enquanto “bond” é “vínculo” e “título” financeiro. No contexto de O.N.I.F.C. (2012), Wiz Khalifa exibe um luxo calculado — “my watch is worth 30 thousand, got cuban links and italian” (meu relógio vale 30 mil, tenho correntes cubanas e italianas) —, alinhado a referências a grifes e joias. Quando ele vira a máxima do rap com “Mo’ money, mo’ problems, not how I see, huh / Mo’ money, mo’ Roberto Cavalli, bruh” (mais dinheiro, mais problemas, não é assim que eu vejo, huh / mais dinheiro, mais Roberto Cavalli, mano), assume uma postura hedonista em que riqueza vira marca. Ao mesmo tempo, a solidão de status (“Only nigga in first class” – único negro na primeira classe) e a exaustão (“I hardly sleep” – quase não durmo) revelam o custo emocional desse ritmo. Até “my name is in my upholstery” (meu nome está no meu estofado) reforça a identidade transformada em produto.

A narrativa é cíclica e profissionalizada: “I wake up and I bake up, get my things and catch a plane / But I’ll be back again” (eu acordo e fico chapado, pego minhas coisas e pego um avião / mas vou voltar de novo) resume a rotina de voo, show e retorno. As imagens ampliam o poder: “get the cork out the bottle” (tirar a rolha da garrafa), entrar no banco “como Tony” (Scarface) com sacolas azuis e ordenar “count it up” (conta tudo). O vocabulário do alto padrão (Gucci, Gianni, Roberto Cavalli) convive com a paranoia diária — “hopin’ the neighbor don’t smell the shit I bake” (torcendo para o vizinho não sentir o cheiro do que eu fumo) —, sustentando o duplo sentido do título: afeto e dívida com o “paper”, e o papel que literalmente mantém tudo aceso. “Paperbond” celebra o conforto da riqueza, mas deixa espalhados sinais de desgaste e isolamento, mesmo quando ele rejeita, no discurso, o clichê “mo’ money, mo’ problems”.