Cábala

Rituais de amor e dor em "Cábala" de WOS

Em "Cábala", WOS utiliza a metáfora da cábala para expressar a busca por sentido em meio à confusão emocional. O verso “Tu amor es mi cábala, viene a partirme la cara su ráfaga” (“Teu amor é minha cábala, vem me arrebentar o rosto com seu vendaval”) mostra como o amor pode ser visto tanto como um amuleto de proteção quanto como uma força que machuca. Essa dualidade percorre toda a música, transformando o sentimento em um ritual místico que oferece refúgio, mas também expõe à dor.

A letra mergulha em um clima de desilusão e melancolia, com imagens como “Todo está nublado” e “El recuerdo es un veneno dulce” (“A lembrança é um veneno doce”). O passado aparece como algo atraente, mas tóxico, enquanto a realidade se impõe de forma abrupta, como em “La realidad otra vez me despierta gritando” (“A realidade de novo me acorda gritando”). O desejo de escapar da dor surge em trechos como “Insisto en quedarme dormido flotando” (“Insisto em ficar dormindo, flutuando”) e “me estoy despegando del cuerpo” (“estou me desprendendo do corpo”), sugerindo uma vontade de transcender a própria existência ou buscar alívio em sonhos. O termo “gran chamán” (“grande xamã”) reforça a ideia de que o amor assume um papel quase espiritual, capaz de reacender esperanças ou alterar a consciência.

Ao abordar a repetição de padrões, a busca pelo proibido e a dificuldade de se libertar do passado — como em “estás perdida en la cárcel de ayer” (“você está perdida na prisão de ontem”) —, WOS constrói uma reflexão sobre a luta interna entre realidade e ilusão. "Cábala" se apresenta como um retrato honesto da ansiedade contemporânea, mostrando o amor como um ritual de proteção e, ao mesmo tempo, um desafio à estabilidade emocional.