Cartier (part. Gabito Ballesteros)

Entre luxo e ressaca em “Cartier (part. Gabito Ballesteros)”

Em “Cartier (part. Gabito Ballesteros)”, Xavi (MX) usa a grife como metáfora de tempo e ostentação. “Pasan las noches, pasan las horas en el Cartier” (Passam as noites, passam as horas no Cartier) mede a ressaca emocional no ponteiro de um relógio de luxo e num ambiente onde ele tenta se perder. A lista “Polvos, Barbies y tequila” (Pós, bonecas e tequila) sugere fuga em excessos, com duplo sentido para drogas, sexo e vaidade. O narrador confronta quem sumiu sem aviso: “Ni una puta despedida… ¿No que tanto me querías?” (Nem uma puta despedida... Não era que você me amava tanto?), alternando cobrança e rancor: “No me eches la bronca, si sabes que tú la cagaste también” (Não coloca a culpa em mim, você sabe que também pisou na bola). Ele ainda admite o papel de provedor: “te patrociné” (te banquei). A entrada de Gabito soa como amigo de bar, lançando um “no se agüite” (não se abata), dentro do clima de tumbado romántico de Xavi: violões macios, batida relaxada e confissão noturna de dor e arrependimento.

As emoções vêm sem filtro. A raiva aparece em “no jodas” (não enche), “pinche” (maldito/maldita) e “puta” (maldita). A saudade persiste: “no te olvido todavía” (ainda não te esqueço). Há autoironia e queda do ideal romântico em “Qué pendejo, pensando que iba a ser pa’ siempre” (Que idiota, pensando que ia ser pra sempre). O verso do vento fecha o enigma do sumiço: “¿en qué momento te sopló el viento que no te encuentro?” (em que momento o vento te levou e eu não te encontro?), enquanto ele repete a roda-viva: “otra pinche amanecida” (mais uma maldita amanhecida). O lançamento ganhou força após uma apresentação espontânea no Supernova e viralizou antes de sair oficialmente. A parceria com Gabito, referência em cruzar corridos com sonoridades atuais, dá um selo de autenticidade a essa conversa amarga em que Cartier é cenário e relógio que insiste em marcar a dor.