Funk Pop A Roll

“Funk Pop A Roll”: crítica ao mercado e ao público cúmplice

Em Funk Pop A Roll, do Xtc (Mummer, 1983), Andy Partridge despeja sua frustração com a comercialização da música. O alvo não é só a indústria; é também o público cúmplice, os “willing slaves” (escravos voluntários). O golpe mais duro vem quando ele admite a própria contaminação: “I’ve already been poisoned by this industry!” (já fui envenenado por esta indústria!). Imagens como “beats up my soul” (esmurra minha alma) e “oozing like napalm” (escorrendo como napalm) reforçam a sensação de agressão química: um produto que queima, gruda e corrói. Depois de abandonar as turnês em 1982, Partridge mira um sistema que emburrece e padroniza consumo.

Ele desmonta os truques da fábrica pop com metáforas de criação em massa e controle. “Everything you eat is waste / But swallowing is easy when it has no taste” (tudo que você come é lixo / mas engolir é fácil quando não tem gosto) ironiza o pop sem substância. “They can fix you rabbits up / With your musical feed” (eles podem preparar vocês, coelhinhos / com sua ração musical) trata o público como coelhos de laboratório; “fix” também sugere castração e domesticação. “Music by the yard” (música por metro), “for fish in shoals” (para peixes em cardumes) e “pose able dolls” (bonecos articuláveis) reduzem artistas e ouvintes a mercadoria e massa moldável. Ao focar os jovens — “the young… are mistakes… force-fed cake” (os jovens... são erros... alimentados à força com bolo) — Partridge mostra como quem quer “bread” (pão) recebe “cake” (bolo), um doce vazio, ecoando o entorpecimento de “Gulping in your opium” (engolindo seu ópio). No centro da crítica, “the music business is a hammer to keep you pegs in your holes” (o negócio da música é um martelo para manter suas cavilhas nos seus buracos) resume a lógica: martelar cada um no seu lugar, segmentado e obediente — cativante por fora, tóxico por dentro, o mesmo veneno que ele admite ter ingerido.