Soft Shock

Entre quartos e urgência em “Soft Shock” dos Yeah Yeah Yeahs

Embora pareça feita para a pista, “Soft Shock” narra um encontro silencioso de quarto, de sussurros e insônia. O “soft shock” é um toque que desperta a parte frágil: um impulso contido que aproxima sem ferir. No clima art rock/new wave de It’s Blitz! (2009), Karen O disse que a canção nasceu de se apaixonar; essa mistura de excitação e vulnerabilidade aparece em “Talk to unknown” (falar com o desconhecido) e, sobretudo, em “Shock, shock to your soft-side” (choque, choque no seu lado sensível) — também ouvida como “sharp shock to your soft side” (choque agudo no seu lado sensível) —, onde o desejo esbarra na proteção emocional. A faixa encena uma proximidade calma e trêmula: o choque é emocional e inesperado, porém suave, capaz de tocar o lado macio sem romper defesas.

Os temas de intimidade, reconexão e medo de exclusão aparecem em imagens diretas: os quartos espelhados de “In your room / In my room” (no seu quarto / no meu quarto), o verão que se anuncia em “Summer looms” (o verão se aproxima) e o sono que não vem em “Catch your shut-eye” (pegar no sono). “Louder / Lips speak louder / Better / Back together” (mais alto / lábios falam mais alto / melhor / juntos de novo) sugere a tentativa de voltar e comunicar melhor; “lips speak louder” dialoga com “actions speak louder” (ações falam mais alto), indicando franqueza e beijos que dizem muito. Quando se repete “It’s the time, it’s the day... don’t leave me... Don’t leave me... out” (é a hora, é o dia... não me deixe... não me deixe... de fora), a súplica ganha urgência temporal e espacial: é agora, aqui, para não ficar do lado de fora — nem do quarto, nem da vida do outro. A versão acústica do próprio álbum expõe ainda mais essa emoção crua e agridoce, ao despir a faixa e deixar o pedido e a vulnerabilidade em primeiro plano.