Batendo o Dente

Vingança e ciúme em “Batendo o Dente” no sertanejo

Em “Batendo o Dente”, de Zé Neto e Cristiano, a vingança não liberta; ela é encenação para ferir. No EP Tarja Preta (2022), o desejo vira arma, e a letra narra um roteiro direto: ele terminou — “Eu mereço, eu sei / Porque foi eu que terminei” — tenta segurar no álcool, “detonando essa garrafa”, e sai “só pra passar raiva”. Ela revida “beijando por livre e espontânea vingança” e ainda espera o momento do impacto, “me esperou te olhar”, para o ciúme cumprir seu papel. Ao presenciar a cena, ele engole o orgulho, admite a derrota — “Ali eu vi que eu perdi” — e volta para casa chorando, consciente de que o plano dela, embora artificial, acertou em cheio.

Os trocadilhos e imagens reforçam o jogo emocional. “Água na boca” deixa de ser apetite e vira vontade de vê-lo sofrer. “Usou sua língua pra me acertar” tem duplo sentido: a língua do beijo como arma de provocação e a língua das palavras que machucam. E “fingiu que o beijo era bom mesmo batendo o dente” expõe o desconforto e a encenação: um beijo de impacto, não de afeto, condizente com o título. No fim, ele entende a lógica: ela não está vivendo um novo amor, está performando vingança; e ele, que quis bancar o forte, confirma o arrependimento e a perda ao reconhecer que foi atingido exatamente onde doía.