Mais Simples

Entre o consolo e a escolha em “Mais Simples” de Zizi Possi

A canção parte de um paradoxo: chama amar e viver de “sobre-humanos”, mas afirma que “esquecer” é “a coisa mais humana”. O verso “Será que quer achar / Sua expressão mais simples?” funciona como chave do disco Mais Simples (1996). Os arranjos enxutos do quinteto — Jether Garotti Jr., Lui Coimbra, Guello, Marcos Suzano e Rodolfo Stroetter — colocam a interpretação equilibrada de Zizi Possi em primeiro plano, como a crítica destacou à época. Intérprete versátil que também canta em italiano e inglês, Zizi aqui aposta num português direto e acolhedor, que reforça o gesto de consolo de “Não fique triste assim”.

A letra encadeia a ideia de que amar envolve extremos — “doer, gozar / ser feliz” — e organiza isso com serenidade. Após o acolhimento, vem a afirmação de autonomia: “É soberano e está em ti querer até / muito mais”, sugerindo o desejo como bússola mesmo no vaivém da vida: “A vida leva e traz / faz e refaz”. O convite “Mas deixa tudo e me chama / Eu gosto de te ter” transforma a busca pela “expressão mais simples” em gesto concreto: estar junto, no presente, apesar da tendência humana ao esquecimento. Ao dizer “Sinto que fiz esta canção em parceria / com você”, a narradora torna o ouvinte coautor; a experiência compartilhada vira matéria do canto. No fim, a simplicidade procurada não é simplificação, mas depuração: aceitar o ciclo entre dor e prazer e escolher a presença como o gesto mais claro do amor.