Pisime Zouke

“Pisime Zouke” como antídoto da correria diária urbana

O truque de “Pisime Zouke”, do Zouk Machine, é transformar a correria urbana em válvula de escape instantânea: um “pequeno zouk” que cabe no trânsito e no rádio do carro. Cantada em crioulo da Guadalupe, a letra encadeia cenas da rotina — “Faktè la ja rivè…” (o carteiro já chegou...), “An pri an trafik la / Séten an ké en rita” (presa no trânsito aqui / com certeza vou chegar atrasada), “Chalè komansé monté” (o calor começa a subir) — para mostrar um dia espremido entre compromissos e atrasos. Mesmo quando afirma “Pa ni ayen ki bon / Pa ni ayen ki mové” (não há nada de bom / não há nada de ruim), o verso “Tou lé jou sé menm babyé la” (todo dia é a mesma ladainha) reforça o desgaste e a monotonia. É aí que a música vira remédio: “Mizik la ké détanm mwen / Ouvè radyo la.” (a música vai me relaxar / ligo o rádio).

O refrão amarra tudo com um duplo sentido: “Sé woulé mwen kay woulé” (eu vou rodar) sugere ao mesmo tempo dirigir e rebolar, fazendo do movimento um modo de seguir no fluxo e de dançar o peso embora. Quando ela pede “An té ké pisimé zouké” (eu queria um pouquinho de zouk), busca essa pausa dançante que reenergiza. E “Pé ké sipoté vi la / San tempo la” (não vou aguentar a vida / sem o tempo) brinca com “tempo” como batida e como cronograma: sem ritmo, a vida trava; com ritmo, vira combustível para encarar a maratona. A repetição hipnótica do refrão imita o giro do volante e do quadril, e ligar o rádio converte o congestionamento em pista de dança portátil: conforto e revitalização em miniatura no meio da pressão diária.