Profissão Perigo

Contrastes de poder e vulnerabilidade em “Profissão Perigo”

A música “Profissão Perigo”, do 509-e, retrata de forma direta o cotidiano de quem se envolve com o crime, destacando o ciclo de tensão, ambição e vulnerabilidade. Um ponto central da letra é a transformação rápida da busca por poder e reconhecimento em fragilidade, como fica claro no verso “o cérebro quer, mais o corpo não ajuda”, quando o narrador, mesmo armado, se vê incapaz de reagir após ser baleado. O título reforça a ideia de que o crime se torna uma ocupação arriscada, quase uma profissão, onde o perigo é constante e tudo pode desmoronar a qualquer momento, como em “meu castelo esfarelo feito areia”.

O contexto do grupo, criado dentro do Carandiru, traz realismo à letra, já que reflete experiências vividas pelos próprios autores. A música mostra o paradoxo de buscar ascensão social e respeito pelo crime, mas acabar vítima da violência e repressão, como no trecho “parceiro morreu com o malote na mão” e na frustração de ser algemado diante de curiosos. O desejo de conquistar bens materiais e dar conforto à família aparece como motivação, mas sempre acompanhado da consciência de que “não existe crime perfeito” e que a ganância é um defeito fatal. Elementos de superstição e pressentimento, como o sonho com flores e o pedido da mãe para não sair, reforçam a tensão entre o risco e a tentativa de proteção. O termo “profissão perigo” faz referência à série de TV dos anos 80, mas aqui representa a rotina de quem vive à margem, onde o reconhecimento e a ostentação são rapidamente substituídos pelo medo, solidão e arrependimento.