Pular para o conteúdo

A complexidade do papel da mulher na Coreia do Sul

Descubra a evolução do papel da mulher na Coreia do Sul, desde as influências históricas até os desafios contemporâneos.

Coreano · Por Gabriela Teixeira

6 de fevereiro de 2024, às 12:00

A Coreia do Sul, conhecida por sua rica cultura e rápido desenvolvimento econômico, possui uma história complexa sobre o papel das mulheres na sociedade

De figuras tradicionais do lar a líderes influentes na mídia e no ativismo, as mulheres sul-coreanas têm moldado e redefinido sua posição na sociedade ao longo dos anos.

Quer entender mais sobre o assunto? Conheça detalhes sobre os papéis desempenhados pelas mulheres na Coreia do Sul e a importância da vida familiar nessas definições.

O papel da mulher na Coreia do Sul

Apesar dos avanços significativos nos direitos e na igualdade de gênero, as mulheres na Coreia do Sul ainda enfrentam uma série de desafios contemporâneos. Estes desafios refletem as tensões entre as tradições históricas e as mudanças sociais em curso.

Mulheres na Coreia do Sul: uma perspectiva histórica influenciada pelo confucionismo

Na Coreia do Sul, a trajetória histórica das mulheres é profundamente influenciada pelo confucionismo, uma filosofia que surgiu na China e desempenhou um papel central na moldagem da sociedade coreana.

Antes da adoção do confucionismo, a sociedade coreana era relativamente matrifocal, e a mulher na Coreia do Sul desfrutava de maior liberdade e status. Práticas espirituais xamânicas, muitas vezes lideradas por mulheres xamãs, eram comuns, refletindo uma sociedade mais igualitária em termos de gênero.

Com a ascensão da dinastia Joseon (1392-1897) e a adoção do confucionismo como filosofia oficial, houve uma transformação significativa no status das mulheres

Confúcio
Escultura em pedra de Kung-Fu-Tzu, o Confúcio (Foto: Pixabay)

O confucionismo, com seu foco em uma hierarquia rígida e estrutura familiar patriarcal, relegou as mulheres a papéis secundários. Elas eram vistas principalmente como esposas, mães e filhas, cujos principais deveres eram cuidar da casa e criar filhos.

Neste sistema, as mulheres eram frequentemente excluídas da vida pública e de oportunidades educacionais. O ideal confucionista de “três obediências” (obedecer ao pai antes do casamento, ao marido após o casamento e ao filho após a morte do marido) dominava a vida das mulheres, restringindo sua autonomia e voz na sociedade.

Para entender mais sobre esse assunto, sugerimos a leitura de livros coreanos, como Pachinko, de Min Jin Lee. A obra é uma saga épica que se estende por várias gerações de uma família coreana, começando no início do século XX, e apresenta mulheres fortes e resilientes que enfrentam adversidades inimagináveis, desde a pobreza extrema até a discriminação étnica no Japão.

Uma outra sugestão é Como Tigres na Neve, de Juhea Kim. O livro explora a vida na Coreia desde o início do século XX até a Guerra da Coreia, oferecendo um retrato vívido das mudanças políticas e sociais no país durante esse período, com ênfase na jornada de mulheres que navegam por uma sociedade que está mudando, mas ainda profundamente enraizada em tradições patriarcais.

Avanços e luta feminista

A partir do século XX, especialmente após a Guerra da Coreia, começou um período de mudança e questionamento desses papéis tradicionais.

Movimentos feministas e mudanças socioeconômicas impulsionaram a luta por direitos iguais, educação e oportunidades de trabalho para mulheres, marcando o início de uma era de transformação para o papel feminino na sociedade sul-coreana.

A luta por direitos e reconhecimento tem sido uma jornada contínua, com mulheres se posicionando contra padrões sociais restritivos e lutando por um futuro mais igualitário.

Desafios contemporâneos

No mercado de trabalho, as mulheres sul-coreanas frequentemente enfrentam desigualdade salarial e oportunidades limitadas para avançar em suas carreiras.

Apesar de muitas mulheres serem altamente educadas e qualificadas, elas muitas vezes encontram um “teto de vidro” que dificulta o acesso a posições de liderança e setores dominados por homens. Além disso, a discriminação no trabalho, o assédio sexual e a dupla jonarda de trabalho após a maternindade continuam sendo problemas significativos.

As mulheres na Coreia do Sul ainda estão sujeitas a intensas pressões sociais relacionadas à aparência e ao comportamento.

O padrão feminino do país muitas vezes impõe expectativas irreais de beleza, levando muitas mulheres a se submeterem a procedimentos cosméticos e cirúrgicos. Além disso, as expectativas tradicionais sobre o casamento e a maternidade continuam a influenciar como a mulher na Coreia do Sul é vista e tratada na sociedade.

As mães solteiras enfrentam um estigma social significativo. Embora esteja havendo uma mudança gradual na percepção, a sociedade coreana ainda muitas vezes vê a maternidade fora do casamento como um tabu. Isso pode levar a discriminação e dificuldades tanto sociais quanto econômicas para mães solteiras.

Conquistas femininas na mídia

As mulheres na mídia coreana têm desempenhado um papel crucial em trazer essas questões para o primeiro plano, utilizando plataformas como o cinema, a televisão e a música para desafiar as normas e promover a discussão sobre os direitos das mulheres.

Esta mudança na mídia reflete uma sociedade em transição, onde as vozes femininas estão cada vez mais fortes e influentes.

Presença no cinema e séries

No cinema e na televisão sul-coreanos, as mulheres têm desempenhado papéis cada vez mais complexos e centrais. A indústria cinematográfica, em particular, tem visto um aumento na quantidade de filmes dirigidos por mulheres, abordando uma variedade de temas que vão desde questões sociais até histórias pessoais profundas.

Nas séries de TV, personagens femininas fortes e multifacetadas estão se tornando a norma, desviando-se dos papéis tradicionais e muitas vezes submissos retratados anteriormente. Conheça agora alguns k-dramas que exemplificam isso!

Hae-Ryung, a historiadora (신입사관 구해령)

Ambientado na era Joseon, o enredo oferece uma refrescante mistura de romance histórico e feminismo moderno, centrada em uma protagonista feminina forte e determinada.

Goo Hae-Ryung, a personagem principal, é uma mulher à frente de seu tempo. Em uma era onde a mulher na Coreia do Sul era frequentemente confinada aos papéis tradicionais de cuidar da casa e da família, Hae-Ryung desafia essas normas sociais e se aventura em uma carreira tipicamente masculina: a de historiadora.

Hae-Ryung, a historiadora
Reprodução / Netflix

Sua jornada para se tornar uma historiadora oficial no palácio real é marcada por obstáculos e preconceitos, mas ela enfrenta esses desafios com coragem e determinação. Está disponível na Netflix.

Private Life (사생활)

Private Life é um k-drama que se destaca pela representação de uma personagem feminina complexa e resiliente, que navega em um mundo de golpes e fraudes.

A protagonista Cha Joo-Eun, interpretada pela atriz Seohyun, é uma golpista talentosa. Desde cedo, Joo-Eun foi ensinada pelos pais, também golpistas, a arte da fraude e do engano.

Private Life
Reprodução / Netflix

Longe de ser uma vilã unidimensional, ela é retratada como uma mulher inteligente, adaptável e incrivelmente resiliente. Sua habilidade de navegar em um mundo dominado por figuras masculinas poderosas e muitas vezes inescrupulosas mostra uma força interior e uma astúcia que vão além do físico.

O k-drama quebra estereótipos ao retratar uma mulher que é tanto vulnerável quanto forte, destacando que a força feminina não precisa ser expressa de maneira tradicional ou estereotipada. Está disponível na Netflix.

Impacto na indústria do k-pop

Na indústria do k-pop, artistas femininas estão quebrando barreiras e estabelecendo novos padrões. Elas estão usando suas plataformas não apenas para entreter, mas também para falar sobre questões como feminismo, empoderamento e igualdade de gênero.

Seus sucessos internacionais refletem uma mudança nos padrões culturais e na aceitação de vozes femininas fortes e independentes na sociedade coreana.

Como modelos de figuras femininas que conquistaram espaços importantes no cenário musical, podemos citar artistas como CL, ex-líder do grupo 2NE1.

A cantora é conhecida por sua forte presença no palco e letras empoderadoras, além de ter desafiado os padrões de beleza e comportamento feminino no k-pop com sua atitude ousada e autoconfiança, inspirando muitas jovens a abraçarem sua individualidade.

Um outro exemplo é o grupo (G)-IDLE, com faixas como NXDE e Wife

Em NXDE, as cantoras desafiam as noções tradicionais de modéstia e as expectativas sociais impostas às mulheres, especialmente em termos de expressão sexual e de imagem corporal, defendendo que as mulheres devem ter autonomia sobre seus corpos e a forma como se expressam.

Wife questiona as normas tradicionais associadas ao papel da mulher em um relacionamento, sugerindo uma reflexão sobre o equilíbrio entre independência e compromisso. A música encoraja as mulheres a questionarem os papéis que lhes são impostos e a buscarem um caminho que respeite suas próprias necessidades e desejos.

Celebrando a força e a diversidade das mulheres sul-coreanas

A jornada das mulheres na Coreia do Sul é uma história de resistência, transformação e esperança. Elas continuam a moldar a sociedade, desafiando antigas normas e abrindo caminho para um futuro mais igualitário e empoderado. 

Para continuar aprendendo mais sobre a cultura sul-coreana, descubra como as mulheres coreanas estão redefinindo a moda e expressando sua identidade em um mundo em constante mudança!

Pratique seu coreano com música

Inscreva-se para receber conteúdos para treinar o idioma com letras e traduções.

Leia Também

Ver mais posts