Maybe Man

Contradições e identidade em “Maybe Man” do AJR

Em “Maybe Man”, cada desejo funciona como uma proposta de identidade seguida de um “mas” que a desmonta. Não é fantasia escapista: é um inventário de contradições que abre The Maybe Man. Críticos já apontaram que os 12 versos servem de índice das faixas seguintes, condensando o tema central do AJR: crescer sem certeza de quem se é. Exemplos se acumulam: virar “stone” (pedra) para não sentir, mas sentir falta da reconciliação; ter “eyes in the back of my head” (olhos na parte de trás da cabeça) para enxergar o passado, mas preferir não saber o que os amigos pensam; atuar na TV para “não ser eu”, e depois ninguém acreditar no choro real. Até quando a vantagem intelectual surge — “my brain would triple in size” (meu cérebro triplicaria de tamanho) — o pensamento aprofunda o vazio: melhor não descobrir “the point of life” (o sentido da vida).

A canção reúne metáforas sobre fugir de si e querer ser compreendido. Ser rico, virar “cocaine” (cocaína) ou “a bottle of Jack” (uma garrafa de Jack Daniel’s) gera aceitação, porém condicional: gostam do efeito, não de você, ecoando a pressão de agradar o público — “I’ll be whatever makes you a fan” (serei o que te fizer virar fã). Ser “a song” (uma música) presente em rituais de vida, mas só por “two or three minutes” (dois ou três minutos), revela a beleza e a brevidade da validação externa. Crescer “as big as my house” (do tamanho da minha casa) afasta a multidão e o cuidado — “I wouldn’t fit on my therapist’s couch” (eu não caberia no sofá da minha terapeuta). No ápice, ser “God” (Deus) garante amor e impunidade ao custo da própria noção de si: “I’d never know who the hell I am” (eu nunca saberia quem diabos eu sou). Musicalmente, AJR vai do íntimo ao desabafo; a contagem “One, Two, Pandemonium” (um, dois, pandemônio) marca a espiral de ansiedade. Como abertura, “Maybe Man” define a travessia à vida adulta, onde o maior desejo — “I wish I was me” (eu queria ser eu) — é o mais difícil de cumprir.