Arreio de Prata

Desejo e liberdade feminina em "Arreio de Prata"

"Arreio de Prata", de Alceu Valença, explora de forma leve e bem-humorada o conflito entre o desejo de liberdade e as restrições impostas pela tradição no interior nordestino. A imagem do cavalo com arreios prateados simboliza poder, sedução e autonomia, enquanto o verso “E a namorada, muito amada, agarrada na garupa” destaca a intimidade e cumplicidade entre o casal. A referência ao cavalo e à égua “fazendo amor no terreiro da morada das meninas” traz um duplo sentido, misturando o universo rural com a sensualidade e o desejo reprimido das jovens.

A ambientação rural, marcada por elementos como boiada, cerca e terreiro, reforça a valorização da cultura nordestina, característica da obra de Alceu Valença. A letra também faz uma crítica sutil às limitações impostas às meninas, que “não podiam nem gozar da vaidade” e sonhavam com a liberdade da cidade. O refrão “Iê, iê arreio de prata, uou / Uou eu todo prateado” ressalta a ostentação e o fascínio, enquanto o olhar das meninas para o cavalo e a identificação delas como éguas funcionam como metáfora para o despertar do desejo e da sexualidade, ainda controlados pelas normas sociais. Assim, a canção celebra o desejo e a busca por liberdade, ironizando as repressões do ambiente rural tradicional.