Decenni

A idealização do passado e o tempo em "Decenni" de Amedeo Minghi

Em "Decenni", Amedeo Minghi explora como o tempo transforma a percepção do passado, tornando as lembranças mais belas do que realmente foram. O artista destaca esse fenômeno no verso “Il tempo li fà belli” (O tempo os faz belos), mostrando que a distância temporal embeleza até mesmo momentos comuns ou insatisfatórios. Isso fica claro também em “E tu scontenta stai / Prestata agli anni tuoi” (E você está insatisfeita / Emprestada aos seus anos), onde a insatisfação do presente contrasta com a nostalgia idealizada de verões e canções passadas, símbolos de juventude e felicidade que só podem ser revisitados na memória.

Minghi utiliza metáforas como o corte de cabelo e o mar para ilustrar as mudanças internas e externas ao longo dos anos: “Nel taglio dei capelli... nel mare ti vedrai” (No corte de cabelo... no mar você se verá) sugere que só percebemos essas transformações ao olhar para trás. O ato de “sfogliando foto / riguardando un film” (folheando fotos / assistindo a um filme) reforça que o passado é revivido por meio de lembranças, mas nunca plenamente recuperado. O refrão “Questi anni non li avrai / Se no li perderai” (Estes anos você não terá / Se não os perder) ressalta a inevitabilidade da perda: os anos vividos não podem ser retomados, e tentar revivê-los é sempre frustrante. No final, Minghi admite que só percebeu a alegria de certos momentos depois que eles passaram, como em “Troppo allegro / Io non lo notai” (Alegre demais / Eu não percebi), mostrando que o verdadeiro valor do tempo só é compreendido à distância.