Vila dos Borracho

A Vila dos Borrachos: Um Retrato da Desilusão e Excesso

A música 'Vila dos Borracho' de Ângelo Franco é uma crônica poética e crua sobre uma comunidade marginalizada, onde o alcoolismo e a falta de propósito dominam a vida dos seus habitantes. A repetição do refrão 'Garrafa é teta e... Ninguém é guacho...' sugere uma dependência quase maternal do álcool, enquanto 'ninguém é guacho' indica que, apesar de tudo, há um senso de pertencimento e comunidade entre os moradores.

A letra descreve um cenário de decadência e desespero, onde o sol se esconde rapidamente e a embriaguez toma conta. A imagem de 'uivar pra lua' e 'amanhecer na rua sem ter rumo certo' reforça a ideia de uma vida sem direção, onde o tempo parece distorcido, com o ponteiro do relógio dando 'um passo pra frente, dois ou três pra trás'. A presença de um peru cacarejando ao amanhecer, confundindo-se com o Natal, adiciona um toque de surrealismo e ironia à narrativa.

A música também aborda a deterioração física e moral dos habitantes, comparando-os a 'minhoca que apodreceu no anzol'. A 'catinga osca' e a 'merce das moscas' pintam um quadro de degradação extrema. No entanto, há uma estranha camaradagem entre os 'borrachos', que se unem em suas desventuras, brigam e choram juntos, como irmãos. A letra conclui com uma reflexão sobre a inevitabilidade do exagero e da insanidade, sugerindo que quem entra nessa vila já está destinado a perder-se no excesso e na desilusão.

A 'Vila dos Borracho' é, portanto, um microcosmo de desespero e solidariedade, onde a busca por alívio através do álcool leva a um ciclo interminável de autodestruição e camaradagem. A música é um retrato vívido e perturbador de uma realidade muitas vezes ignorada, mas profundamente humana.