A Luz de Luzia
Augusto Teixeira
Quem recorda quanto tempo faz
Que a luz de Luzia se desfez na Luz
Fumando um cachimbo podre de outra paz
A pedra no meio do caminho, a cruz?
Putas, noias, nerds, camelôs
Transitam num zoo em transe, e tudo bem
Tem funk e orquestra, artistas, gigolôs
Irmãos num estado terminal de trem
E, a me fitar
Lá estava Luzia
Co’aquele olhar
De quem nem sequer via
Qual esse arquiteto rococó
Que planejou ruas de contradição?
Triunfo é derrota, Aurora é noite só
Barrocas malocas, rude erudição
Presa em palácios e museus
A classe dos que têm classe pede bis
Enquanto aqui fora o sangue dos sem Deus
Escorre num bangue-bangue entre zumbis
E, a me fitar
Lá estava Luzia
Co’aquele olhar
De quem já não luzia
Qual Lúcifer
Que já nem recorda
Quando a corda se rompeu
De seu céu caiu
E eis que da luz se fez o breu
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