The Lake

Disciplina e mito em “The Lake”, virada da Bathory

Em “The Lake”, o narrador escolhe sacrificar a visão para não sucumbir ao terror de “the face that makes me freeze” (o rosto que me faz congelar). O “one eyed old man” (ancião de um olho só) é Odin, cujo mito do olho entregue às águas se reflete no conselho de “throw my eyes into the lake” (jogar meus olhos no lago) para “see from within” (ver por dentro). O ancião revela “a lake that no-one knows of, where the end of the sky unites with the bottom” (um lago que ninguém conhece, onde o fim do céu se une ao fundo), limiar entre mundos onde ele lançou o próprio olho “when this world was young” (quando este mundo era jovem). O narrador decide repetir — e aprofundar — o rito: “And when blind I will still see” (E mesmo cego, ainda verei). O lago vira fonte de conhecimento; os olhos submersos brilham — “My two eyes will shine like the stars” (Meus dois olhos brilharão como as estrelas) — indicando uma visão cósmica, além do olhar comum.

A canção apresenta um paradoxo: “I see all things that can’t be seen / But not my hand that is held out in front of me” (Eu vejo todas as coisas que não podem ser vistas / Mas não a minha mão estendida à minha frente). Ver o invisível exige trocar técnica por disciplina interior — “No matter how sharp the blade...” (Não importa o quão afiada seja a lâmina...) — e abandonar a tentativa de “stare him down” (encará-lo até fazê-lo recuar). A “beast” (fera) pode ser um inimigo real, a morte, o medo ou o destino: qualquer força cuja visão direta petrifica. Ao unir sacrifício, sabedoria e mito nórdico, “The Lake” marca a virada do Bathory do black metal cru para um viking metal épico e atmosférico, o que explica sua ressonância duradoura, inclusive em releituras como a do Hellish War em 2017.