Amore Mio Non Piangere (la Mondina)

“Amore Mio Non Piangere (la Mondina)” e o retorno ao lar

Em “Amore Mio Non Piangere (la Mondina)”, interpretada por Orietta Berti, a narradora troca o destinatário de “amore mio” (meu amor) para “mamma, papà” (mamãe, papai), indicando que a partida não é só um adeus romântico: é um retorno para recompor a família e cuidar de um corpo exausto. Ao dizer “A far la signorina” (para viver como moça), revela o desejo de sair da identidade de mondina e recuperar dignidade e juventude, ecoando a história real das trabalhadoras dos arrozais da Planície Padana. Ela decide “lasciar la risaia” (deixar o arrozal) e voltar para a “bianca mia casetta” (minha casinha branca), onde a mãe a espera — uma imagem doméstica que contrasta com jornadas curvadas, com pés e mãos na água, sob o sol. Datada de 1905 e oriunda do repertório de canções de trabalho das mondinas, a peça transforma a experiência individual em desabafo coletivo no refrão “È stata la risaia che mi ha rovinata” (Foi o arrozal que me arruinou).

Os temas centrais são cansaço, saudade e reconstrução. “Non sono più mondina” (Não sou mais mondina) marca a ruptura com o campo e a condição de trabalhadora explorada. “A far la signorina” (para viver como moça) sugere não apenas descanso doméstico, mas um desejo de respeito social: voltar a ser a moça da casa, protegida, longe do estigma do arrozal. Em “Se sono consumata” (se estou desgastada), o desgaste é literal — o corpo — e simbólico — a juventude. A repetição de “È stata la risaia che mi ha rovinata” (Foi o arrozal que me arruinou) concentra a melancolia: um pedido de amparo à família e ao amor, e a decisão de abandonar a risaia para tentar se curar e reencontrar o próprio lugar.