Queen Of Broken Hearts

“Queen Of Broken Hearts”: poder, persona e redes tóxicas

Em “Queen Of Broken Hearts”, a “rainha” não trata de gênero, mas de poder tóxico. A coroa é a persona de clout que o próprio blackbear veste e que ameaça afogá‑lo: “It’s a heavy crown, it might drown me” (É uma coroa pesada, ela pode me afogar). O refrão contrapõe “Used to be a shooting star” (Eu costumava ser uma estrela cadente) à sensação de ter escurecido, marcando a virada de inocência para cinismo no arco pessoal do artista. Ao listar dinâmicas típicas das redes — “Blocked my post and my story” (Bloqueou meu post e meu story), “I go ghost without warning” (Eu sumo sem avisar), “Take anything, make it about me” (Pego qualquer coisa e torno tudo sobre mim) — ele liga o drama afetivo à mecânica de bloqueio, ghosting e validação narcísica. Até o deboche “Material girl, you can’t afford me” (Garota materialista, você não pode me bancar) expõe a mercantilização das conexões. A “heavy crown” sintetiza o peso do status online que, segundo o próprio blackbear, funciona como “vilã maligna” na saúde mental e nos relacionamentos.

A voz oscila entre autodefesa e provocação: “you need to chill / I don’t care, fucking hate me” (você precisa se acalmar / eu não ligo, me odeie pra caralho) afasta, enquanto “Tell me I’m the worst” (Diga que eu sou o pior) denuncia fome por atenção, nem que seja negativa. Ele reivindica controle — “I’m the queen, bow down to me” (Eu sou a rainha, se curve a mim) —, mas admite anestesia e fuga — “I popped a pill / I go ghost” (eu tomei um comprimido / eu sumo). Surge o ciclo de poder performático e autossabotagem que a cultura digital premia. O título “Queen Of Broken Hearts” tem duplo sentido: o personagem que reina ao destruir afetos e a própria lógica das plataformas, que lucra com o drama e ele internaliza. O clipe, primeiro dirigido por blackbear e estrelado por Mckenna Grace, reforça a encenação dessa persona, alinhando vulnerabilidade e crítica à cultura digital que ele domina, mas que o puxa para a escuridão que ele assume.