Saquarema

Memória afetiva e surf em “Saquarema”, da Blitz

“Saquarema” funciona como homenagem e memória de origem da Blitz: foi ali que surgiu o refrão de “Você Não Soube Me Amar”, e a letra enquadra o clima que impulsionou essa criação. O mapa afetivo aparece em “antes de Búzios, depois de Bacaxá”, nas ondas de Maçambaba, Itaúna e Praia da Vila, e na hipérbole “o Havaí era ali”, que eleva o pico local ao patamar mítico do surfe. A imagem de “discos no céu” brinca com o duplo sentido entre discos voadores e LPs girando nos luaus à beira-mar. Já “Atrás da laje, com fé e coragem” remete às formações de pedra que moldam ondas pesadas e exigem ousadia. O refrão “Swell, swell... Lual, lual” alterna a adrenalina do mar subindo com as noites sob as estrelas, reforçando liberdade, convivência e senso de tribo.

A narrativa aposta no cotidiano simples e feliz: varrer a casa, fazer comida, agradecer, encerar a prancha. Em “fazer parafina pra descolar uma grana”, cabe tanto o bico de vender parafina quanto o ritual de preparar o equipamento, marcando a vida prática do surfista. Entre a espera pelo swell e os flertes do fim de semana, a canção celebra juventude, tempo livre e cumplicidade, até o mantra de pertencimento “Saquarema não tem nada igual”. Fora da letra, esse vínculo se confirma quando a Blitz volta à cidade em 2021 para tocar no Saquarema Surf Festival, selando a ligação histórica que a música retrata. No conjunto, ficam as imagens vividas: ondas perfeitas, laje desafiadora, luaus e “discos no céu”.