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Análise de Triste, Louca ou Má, música de Francisco, el Hombre

Analisando letras · Por Camila Fernandes

8 de Abril de 2021, às 12:00

Se você chegou até aqui, provavelmente é porque alguma coisa na música Triste, Louca ou Má te chamou atenção. Seja pela letra poética, pelo nome intrigante ou pela beleza do clipe, a canção da banda Francisco, el Hombre desperta curiosidade. 

A partir daí, é só mergulhar na música para perceber a força que ela traz.

Francisco, el hombre
Créditos: Divulgação

Vamos começar pelo nome: Triste, Louca ou Má é uma tradução da expressão sad, mad or bad, usada para denominar, de maneira pejorativa, mulheres que decidem ficar solteiras — ou seja, como a música diz, mulheres que rejeitam a receita cultural.

Só por aí já deu pra perceber que a música é cheia de críticas sociais, né? Então, vem com a gente conferir a análise completa de Triste, Louca ou Má!

Análise de Triste, Louca ou Má

Para compreender melhor o significado da música, vamos analisar alguns trechos da letra de Triste, Louca ou Má:

Triste, louca ou má
Será qualificada ela
Quem recusar
Seguir receita tal
A receita cultural
Do marido, da família
Cuida, cuida da rotina

A primeira parte da música fala sobre seguir a receita, mas, que receita seria essa? Na nossa sociedade existem uma série de papéis sociais que são culturalmente determinados e que estão enraizados. 

São padrões que vemos sendo repetidos por mulheres de geração em geração. É aquela velha história de que “sempre foi assim”, e por isso essa é a forma correta.

Existe uma determinação implícita de que as mulheres devem cuidar — do marido, dos filhos, da família. Aquela que se recusa a cumprir esse papel, seja por não querer se casar ou por não ter o desejo de ser mãe, será considerada errada, como se não cumprisse seu dever. 

Daí é que vem o estereótipo: se ela se recusa a seguir a vida de uma mulher “normal”, com certeza há algo de errado com ela.

Só mesmo rejeita
Bem conhecida receita
Quem, não sem dores
Aceita que tudo deve mudar

Que um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar

Apesar de não ser tão difícil assim enxergar que algo está errado, provocar mudança é um tanto mais complicado.

É isso o que a música nos diz nessa estrofe: para rejeitar a receita, que já está enraizada, é necessário não somente aceitar que a situação precisa mudar, mas também aceitar que a transformação será difícil e certamente trará sofrimento.

Pense, por exemplo, no quão julgadas foram as primeiras mulheres que decidiram usar calças, ou aquelas que foram pioneiras em áreas predominantemente masculinas, como a engenharia e a segurança pública. 

Hoje essas histórias parecem distantes, mas esse mesmo preconceito ainda é sofrido por mulheres homossexuais, por aquelas que decidem não ser mães e por muitas outras.

E o que é essa verdade transformadora que precisa ser aceita e disseminada? Nada define mais uma mulher do que aquilo que ela é e quer ser. Relacionamentos não nos definem, a aparência não nos define, e muito menos o que os outros dizem sobre nós

Eu não me vejo na palavra
Fêmea: Alvo de caça
Conformada vítima
Prefiro queimar o mapa
Traçar de novo a estrada
Ver cores nas cinzas
E a vida reinventar

O que a cantora diz aqui é que não consegue — e não quer — se ver no papel de vítima conformada que é geralmente dado às mulheres.

Muito pelo contrário, ela já escolheu revolucionar, criar um caminho novo e abrir frente para tantas outras mulheres que virão. 

Como a música surgiu?

A banda Francisco, el Hombre, cujo nome é inspirado em um personagem do livro Cem Anos de Solidão, foi formada em 2013 por dois irmãos mexicanos que se naturalizaram brasileiros: Sebastián e Mateo Piracés-Ugarte.

Hoje a formação também conta com o guitarrista Andrei Martinez Kozyreff, e com a vocalista e percussionista Juliana Strassacapa. 

Juliana Strassacapa
Juliana Strassacapa / Créditos: Divulgação

A voz que ouvimos na música é de Juliana, e também foi dela a ideia da letra. Depois de ter ouvido a expressão sad, mad or bad, ela parou pra pensar em quantas vezes ela, assim como tantas outras mulheres, havia sido taxada de forma pejorativa por não cumprir aquilo que os padrões sociais e culturais exigem.

De acordo com a cantora, a primeira parte da música foi escrita pensando na mãe dela, enquanto a segunda parte é um recado para si mesma. 

Triste, Louca ou Má e o feminismo 

Tanto a letra quanto o clipe de Triste, Louca ou Má trazem reflexões importantes para o momento em que vivemos. Durante séculos de luta, as mulheres conquistaram direitos e papéis sociais que antes lhes eram negados. Entretanto, a situação ainda é longe de ser a ideal

Apesar de todas as pequenas revoluções do dia a dia, muitas mulheres ainda estão submetidas a relacionamentos abusivos e situações de risco que muitas vezes são agravadas por imposições culturais. 

A sociedade dita cruelmente que é melhor se submeter à violência do que passar a vida sozinha — e vale sempre ressaltar: não é!

Por que classificar as mulheres como tristes, loucas ou más é tão ruim?

Como já falamos, a expressão é uma tradução de sad, mad or bad, do inglês. Nos Estados Unidos, é comum que essa fala seja usada para inferiorizar as mulheres simplesmente por fazerem escolhas que fogem do padrão. 

O que torna tudo ainda mais grave é que sad, mad e bad são as três classificações usadas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM-5, livro da Sociedade Americana de Psiquiatria que define como é feito o diagnóstico dos transtornos de personalidade.

Ou seja, implicitamente, afirma-se que as mulheres têm algum tipo de transtorno mental apenas por não quererem seguir os padrões

Mulheres na música

Agora que você já compreendeu a análise de Triste, Louca ou Má, que tal continuar viajando pelo universo feminino? Vem conferir nossa seleção de mulheres na música, com 14 cantoras incríveis para celebrar!

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