A história da música A Day In The Life, dos Beatles

Em pouco mais de uma década, os Beatles criaram hits que viraram clássicos. São tantas canções incríveis que é quase impossível escolher uma delas como a melhor dos Fab Four

Como o quarteto inovava a cada disco, estabelecendo uma fase, cada fã tem a sua preferida. No entanto, público e especialistas concordam que A Day In The Life é especial e por isso ela é considerada a melhor música do grupo. 

Adjetivos não faltam para descrever a faixa, e o mais comum é obra-prima. Com transições originais entre versos e ritmo, escolhas instrumentais ousadas, ela continua surpreendente até hoje. 

Isso sem falar que a gravação no estúdio foi um evento, com a presença de amigos e músicos como Mick Jagger e Keith Richards. Já bateu a curiosidade para saber mais detalhes, né? 

Então vem conhecer a história e os bastidores da música A Day In The Life:

As inspirações e a história de A Day In The Life 

Mais que compositores, John Lennon e Paul McCartney contavam histórias em suas letras. Cada um tinha seu estilo, é claro, mas quando se juntavam, o resultado sempre beirou a genialidade. 

E A Day In The Life é prova disso. Última faixa do memorável álbum Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, a música era vista por Lennon como uma legítima parceria entre ele e McCartney. 

Como o título já diz, ela trata de fatos do cotidiano, da vida em geral.  E para escrever esses versos, a dupla foi atrás de inspirações diferentes.

John encontrou a sua motivação nas folhas do jornal, por isso sua parte possui um tom mais triste, tratando das fatalidades da vida. Na sua escrita, ele também encontrou espaço para fazer referências pessoais, como quando atuou no filme Como Eu Ganhei a Guerra.

Já Paul, que entra no meio da canção, aproveitou trechos de uma canção mais otimista, juntando lembranças de quando ele era um estudante e pegava o ônibus para ir à escola. 

Parece estranho que assuntos sem muito em comum estejam na mesma música, né? O próprio Paul teve essa impressão, mas viu que as duas partes combinaram, o que trouxe uma inversão musical arrojada. 

Análise e significado de A Day In The Life

A Day In The Life foi escrita durante o período mais psicodélico da banda e, por mais que trate de algo mais pé no chão como notícias e experiências próprias, ela embarca nessa onda por causa de sua montagem. 

Ao escutar a canção, temos a percepção de alguém lendo as páginas do jornal, contando as principais manchetes do dia e tendo a consciência que, apesar do peso das matérias, aquilo tinha um fundo cômico, tal como a vida. 

A primeira história cantada por John é a de um homem sortudo que tinha sua fama, mas por um infortúnio, acabou morrendo em um acidente de carro. 

He blew his mind out in a car (Ele arrebentou a cabeça em um carro) 
He didn’t notice that the lights had changed (Ele não percebeu que o semáforo tinha mudado) 

Para quem conhece bem as teorias da conspiração, foi aí que muitos imaginaram que se tratava de Paul McCartney, que supostamente morreu e foi substituído por um sósia, versão que permanece como um dos mitos da cultura pop. 

Na verdade, o acidente fatal que motivou essa estrofe envolveu Tara Browne, um jovem aristocrata da sociedade londrina e que era próximo de Paul McCartney e de Brian Jones, fundador dos Rolling Stones. 

A crowd of people stood and stared (Uma multidão parou e ficou olhando) 
They’d seen his face before (Eles já tinham visto seu rosto antes) 
Nobody was really sure if he was from the house of lords (Mas ninguém tinha certeza se ele era da Casa dos Lords) 

Browne era bisneto do criador da cerveja Guinness, e sua trágica morte atraiu a atenção das pessoas, que logo perceberam que a vítima era um rosto conhecido. 

I saw a film today, oh, boy (Eu vi um filme hoje, garoto) 
The English army had just won the war (O exército inglês tinha acabado de vencer a guerra) 

Nessa estrofe, John faz referência ao filme Como Eu Venci a Guerra, no qual ele interpretou um soldado. O longa tinha o clássico humor britânico e satirizava livremente episódios da Segunda Guerra Mundial. 

Inclusive, as gravações desse filme marcam dois momentos da vida de Lennon: foi no set de filmagens que ele adotou os tradicionais óculos de aros redondos.

O outro detalhe é que as locações do filme despertam lembranças em Lennon, inspirando-o a compor Strawberry Fields Forever 😃

Woke up, fell out of bed (Acordei, caí da cama) 
Dragged a comb across my head (Passei um pente pela minha cabeça) 
Found my way downstairs and drank a cup (Desci as escadas e tomei um café) 
And looking up I noticed I was late (E olhando para cima notei que estava atrasado) 
Found my coat and grabbed my hat (Achei meu casaco e peguei meu chapéu) 
Made the bus in seconds flat (Peguei o ônibus em segundos) 

Chegamos na parte da grande virada da música, quando o tom mais sombrio dá uma pausa e entra Paul cantando versos mais alegres, onde resgata suas memórias para descrever o cotidiano de um jovem estudante.

Na música ele descreve atos simples, como pentear o cabelo, achar o casaco, se atrasar e pegar o ônibus. Isso é tão comum que gera uma identificação com o público, como um dia comum na vida de qualquer um. 

Found my way upstairs and had a smoke (Segui meus caminhos pela escada e acendi um cigarro) 
And somebody spoke and I went into a dream (E alguém falou e eu entrei num sonho) 

Na sequência, ao descrever que o jovem acende um cigarro, Paul faz analogia ao uso da maconha quando entra em um sonho. 

Diversas outras partes da música possuem essa duplicidade de sentidos e por esses motivos, A Day In The Life foi banida das rádios mais influentes da Inglaterra por alguns anos. 

I read the news today, oh, boy (Eu li as notícias do dia, garoto)
Four thousand holes in Blackburn, Lancashire (Quatro mil buracos em Blackburn, Lancashire) 
And though the holes were rather small (E embora os buracos fossem bem pequenos) 
They had to count them all (Eles tiveram que contar todos) 
Now they know how many holes it takes to fill the Albert Hall (Agora eles sabem quantos buracos são necessários para encher o Albert Hall) 
I’d love to turn you on (Eu adoraria te excitar) 

John volta para trazer mais notas aleatórias, como a matéria no jornal falando sobre os 4 mil buracos na estrada de Blackburn, dado que ele encontrou folheando as páginas do Daily Mail.

Há quem diga que os pequenos buracos sugerem a aplicação de heroína com uma seringa, em mais uma alusão ao uso de drogas 😲

Falando nelas, Lennon encerra duas estrofes com a frase I’d love to turn you on, que pode ser entendido como algo do tipo “eu adoraria te deixar ligado”, mostrando que os Beatles não tinham mais limites na hora de colocar provocações em suas letras. 

A gravação e os arranjos de A Day In the Life

Para muitos críticos musicais, A Day In The Life é um tesouro do The Beatles pelo conjunto da obra. Ou seja, letra, melodia, gravação e principalmente os bastidores que a cercam. 

As gravações da canção começaram em janeiro de 1967 e terminaram em meados de fevereiro. O processo criativo envolveu todos os músicos, que criaram uma grande expectativa em torno do trabalho. 

O que mais marca o hit são as variações do ritmo, que em 5 minutos trazem um espírito melancólico e depois flertam com a vibe psicodélica. 

E muito disso está ligado às escolhas instrumentais feitas pela banda, como trazer uma orquestra para a gravação, pois eles queriam que a faixa fechasse com a parte instrumental. 

Para o dia da gravação, foi montada praticamente uma festa no estúdio, com convidados ilustres e amigos do grupo, como Mick Jagger e Keith Richards. 

Além disso, o espaço foi todo enfeitado com bexigas e os membros da orquestra usaram apetrechos como nariz de borracha e patas de gorila, dando um tom divertido e marcante para esse momento, que inclusive foi registrado no clipe oficial. 

Curiosidades sobre os Beatles 

Se apenas história da música A Day In The Life já é cercada de fatos inusitados, imagina na carreira toda da banda inglesa?

E para você ficar ainda mais por dentro da história deles, separamos as melhores curiosidades sobre os Beatles! 

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