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A história da música Negro Gato, um clássico de Roberto Carlos

Analisando letras · Por Érika Freire

15 de Abril de 2022, às 19:00

Sucesso na voz do rei Roberto Carlos, a música Negro Gato foi inspirada em uma versão gringa chamada Three Cool Cats, de Jerry Leiber e Mike Stoller. A versão brasileira foi composta por Getúlio Côrtes e gravada primeiramente pela banda Renato e Seus Blue Caps, em 1964.

Getúlio Cortês e Roberto Carlos
Créditos: Divulgação

Dois anos depois, Roberto Carlos gravou uma versão mais rock and roll e a música acabou se tornando um dos seus maiores hits. Além disso, Negro Gato entrou também para as melhores músicas da Jovem Guarda

Para conhecer melhor os fatos sobre a composição, vamos contar a seguir a história da música Negro Gato. Ficou curioso? É só acompanhar com a gente! 

Qual é a história da música Negro Gato?

Afinal, quem é o autor da música Negro Gato? Se você veio parar aqui é porque também tem essa dúvida, bastante comum. A canção fez sucesso com a versão de Roberto Carlos, porém, o autor é Getúlio Côrtes, que se inspirou em um gato que costumava ficar pela vizinhança.

Embora tenha tom bem-humorado, Negro Gato acabou, ao longo do tempo, ganhando interpretações distintas sendo relacionada ao racismo e questões sociais. O próprio autor já explicou que a música se inspira em sua própria história, pois na época sofria com dificuldades financeiras.

Getúlio Côrtes, hoje com 84 anos, contou que havia um gato que costumava pular pelo telhado da sua casa, fazendo muito barulho e impedindo-o de dormir.

Segundo relatos do compositor em entrevistas para falar sobre a música, ele tentava expulsar o gato sem sucesso, pois o mesmo ficava apenas encarado como se nada tivesse acontecido.

Após os conflitos e irritações iniciais com o bichano, Côrtes decidiu compor e levou quase um mês para conseguir finalizar. Ele até foi tomado pela crença que gatos preto dão azar e a música acabaria não fazendo sucesso. 

De fato, muitos artistas rejeitaram a música, mas provando que essa crença não passa de uma bobagem, a música foi gravada pela banda Renato e Seus Blue Caps, em 1964. Na época, Côrtes era roadie da banda e viajava com os integrantes pelo Brasil, ajudando a carregar os instrumentos. 

Como ele já compunha algumas letras, Renato Barros, líder do grupo, deu essa força e gravou a música. 

Com a versão da banda, Roberto Carlos gostou e resolveu fazer uma versão rock, e a música acabou se tornando um dos maiores sucessos da carreira do rei.

Segundo Getúlio, a maneira como Roberto gravou tornou a música especial, foi um incêndio que dominou as rádios pelo país. 

Depois o gato sumiu 

Ao que tudo indica, o gato preto tinha como objetivo inspirar Getúlio a compor e depois seguir para outros telhados. E foi exatamente isso que aconteceu.

Depois que a música ficou pronta, o gato sumiu e Getúlio nunca mais o viu. Ele foi enviado só para me dar a inspiração.

Com o estouro de Negro Gato na voz de Roberto Carlos, muitos artístas se interessaram em gravar músicas de Getúlio Côrtes, como Wanderléa, Jerry Adriani, Erasmo Carlos, Odair José entre outros.

A versão original, 

Thrre Cool Cats, a versão original da música, foi composta por Jerry Leiber e Mike Stoller e regravada pelos The Coasters, em 1958

Em 1962, os Beatles gravaram a música durante uma audição nos estúdios da Decca Records, em Londres. Acontece que o álbum nunca chegou a ser lançado, pois a gravadora não assinou com o quarteto

George Harrison é quem canta a versão dos Beatles, que tem uma letra mais alegre do que a versão brasileira. 

Análise da música Negro Gato

Eu sou um negro gato de arrepiar

E essa minha vida

É mesmo de amargar

Só mesmo de um telhado

Aos outros desacato

Eu sou um Negro Gato!

Eu sou um Negro Gato!…

Embora o compositor Getúlio Côrtes tenha se inspirado, de fato, em um gato preto que lhe perturbava durante a noite, ele acabou criando uma letra que amplia o sentido.

As dificuldades sociais de um morador da periferia têm esse mesmo amargor que se refere a letra. 

Minha triste história

Vou lhes contar

E depois de ouví-la

Sei que vão chorar

Há tempos eu não sei

O que é um bom prato

Eu sou um Negro Gato!

Eu sou um Negro Gato!…

Nesta estrofe, ele descreve as dificuldades que um gato de rua tem em não encontrar comida fácil. O mesmo ocorre com a população sem teto, que sofre com a falta de oportunidades, emprego, fome e vulnerabilidade. 

Sete vidas tenho para viver

Sete chances tenho para vencer

Mas se não comer

Acabo num buraco

Eu sou um Negro Gato!

Eu sou um Negro Gato!…

Ele faz referência à lenda de que um gato tem sete vidas, que teria surgido na idade média e é perpetuada até hoje. Mesmo que um bichano tenha essa sorte, se não comer, assim como os humanos, vão acabar morrendo de fome.

Um dia lá no morro pobre de mim

Queriam minha pele para tamborim

Apavorado desapareci no mato

Eu sou um Negro Gato!

Eu sou um Negro Gato!…

Neste trecho, fica ainda mais evidente o quanto o compositor fez relações com o gato de rua, abandonado, com as condições sociais dos moradores da favela. Muito utilizado nas rodas de samba, o tamborim é um instrumento confeccionado com pele animal ou plástico. 

Como a saudosa Elza Soares disse em sua música, a carne mais barata do mercado é a carne negra. Mesmo que não tenha tido a intenção, Getúlio Côrtes criou uma letra camuflada pelo tom bem-humorado, mas que na realidade toca em fatos muito tristes sobre os riscos e as péssimas condições sociais da população negra.

As melhores de Roberto Carlos

Muito bom relembrar esse clássico da música brasileira, né? Para aproveitar o embalo e continuar no clima, depois de conhecer a história da música Negro Gato, vem conferir as 10 melhores músicas de Roberto Carlos, o Rei da Jovem Guarda!

As melhores: Roberto Carlos

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