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A história da Jovem Guarda, movimento que marcou os anos 60

História da música · Por Mateus Pereira Silveira

27 de Janeiro de 2021, às 12:00

A história da música nacional pode muito bem ser contada pelas várias fases que ela já passou. E entre as várias Eras, uma que está bastante viva na memória dos brasileiros é a Jovem Guarda.

Erasmo Carlos, Wanderléia e Roberto Carlos / Créditos: Divulgação
Erasmo Carlos, Wanderléia e Roberto Carlos / Créditos: Divulgação

Liderada por Roberto Carlos, a Jovem Guarda foi breve, mas causou um grande impacto no cenário artístico da época, principalmente por trazer uma sonoridade próxima do que já acontecia lá fora! 

Quer saber mais sobre essa fase? Vem com a gente e conheça tudo sobre a história da Jovem Guarda! 

A história da Jovem Guarda

No início dos anos 1960, o mundo musical cedia aos encantos e agitos do rock. Nos EUA, figuras como Elvis Presley e Chuck Berry eram reverenciadas, enquanto os Beatles faziam um sucesso estrondoso na Europa e estavam prestes a invadir a América. 

Show dos Beatles
Show dos Beatles / Créditos: Divulgação

Por aqui, o ritmo era diferente. A bossa nova ditava os rumos da música nacional com suas melodias e versos poéticos e contemplativos.

Mas isso iria mudar, pois a influência estrangeira não demoraria a desembarcar no Brasil. 

Aos poucos, a euforia começava a tomar corpo no país, embalada por canções românticas internacionais que tinham letras descontraídas e animadas

Seguindo a onda do momento, os artistas que já tinham seu status nas rádios e na cabeça do público passaram a copiar o estilo das referências que vinham de fora. 

Entre esses artistas estavam nomes como Roberto Carlos, que foi um dos pioneiros do movimento da Jovem Guarda e já emplacou sucessos chicletes que caíram no gosto do público, como Splish Splash e O Calhambeque

Outro fenômeno que ajudou a popularizar o início do ritmo foi a guitarra elétrica, que já despertava as atenções lá fora e aqui foi responsável por implementar um arranjo mais moderno e marcar a mudança para uma nova fase musical

A Jovem Guarda e a televisão

Percebendo que aquele fervor não se tratava apenas de música, mas sim de um estilo de vida, não demorou para que os empresários e a mídia achassem uma maneira de apresentar os talentos nacionais para o público nacional. 

E o meio escolhido foi a televisão, que naquela época também estava mais presente na casa dos brasileiros. Para o nome do programa, os idealizadores se inspiraram na seguinte frase de Lênin: O futuro pertence à jovem guarda, porque a velha está ultrapassada. 

Programa A Jovem Guarda
Programa A Jovem Guarda / Créditos: Divulgação

Para representar essa nova geração, foram selecionados 3 artistas para apresentar o programa: Roberto Carlos, Erasmo Carlos, o Tremendão, e Wanderléa. Junto, o trio iria estabelecer um marco na televisão nacional. 

Transmitido pela Record, o programa Jovem Guarda era gravado no Teatro da emissora em São Paulo e ia ao ar nos domingos de tarde depois das partidas de futebol. 

Como ainda não havia retransmissão via satélite, as principais capitais recebiam as fitas e passavam o show televisivo durante a semana.

Rapidamente a atração se tornou um sucesso de audiência e, por consequência, foi responsável por lançar vários nomes de destaque da música brasileira. Quem são eles? A gente já conta para você! 

A turma que fez a Jovem Guarda

Como ainda acontece em alguns programas dominicais da televisão aberta, diversos artistas cantavam suas principais músicas no Jovem Guarda. Com isso, eles aumentaram seu alcance e conquistaram mais fãs, já que o programa só crescia. 

Além dos apresentadores, outros artistas merecem ser lembrados, alguns deles mesmo sem ter participado das gravações. Esse é o caso de Ronnie Von, que também era conhecido como o Pequeno Príncipe

Ronnie Von
Ronnie Von / Créditos: Divulgação

Charmoso e dono de outros talentos, Ronnie era visto como uma figura provocativa, que rivalizava com Roberto Carlos. Dizem que seria esse o motivo de ele não aparecer no programa principal, sendo que isso não foi um obstáculo para sua carreira. 

Cada um dos cantores tinha sua particularidade e embora todos seguissem o caminho das baladas românticas mais agitadas, outros tinham uma pegada mais sertaneja ou até mesmo internacional, como Jerry Adriani, que antes cantava apenas em italiano. 

No entanto, ele logo partiu para uma nova fase da sua carreira e conseguiu emplacar várias canções, como o hit Doce, Doce Amor

Outros nomes que não podemos esquecer são: Leno e Lilian, Vanusa, Sérgio Reis, Martinha, The Fevers, Rosemary e outros. 

Um estilo de vida 

Também chamados de Turma do iê-iê-iê (tradução dos versos yeah, yeah yeah, da música She Loves You, dos Beatles), a Jovem Guarda marcou a moda e o vocabulário de jovens e adolescentes dos anos 60

Repetindo penteados e visuais que já faziam sucesso lá fora, os cantores ditaram tendências de estilo como as roupas bem coloridas e chamativas, como casacos com plumas, calças boca de sino e as minissaias.

Jovem Guarda
Créditos: Divulgação

Da mesma maneira, as gírias roubaram a cena. Com certeza, você já viu filmes e novelas com essas expressões: broto, brasa, mora, mancada e carango, certo?

Isso porque até o jeito de falar era mais despojado e informal e como era de se esperar, pegou fácil na galera. Separamos outras gírias clássicas para você conferir. 

  • Bicho: cara, amigo
  • Bulhufas: nada
  • Duvide-o-dó: duvidar de algo.
  • Esticada: passar por vários restaurantes e bares noturnos
  • Lelé da cuca: louco, desequilibrado
  • Morou?: entendeu?
  • Pão: homem bonito
  • Papo firme: sério, real, verdadeiro
  • Patota: turma de amigos
  • Prafrentex: avançado, moderno
  • Sebo nas canelas: apresse-se, vamos rápido

Nem tudo são flores 

Enquanto os fãs faziam o maior barulho, repetindo aqui no Brasil o efeito da Beatlemania, no meio musical e na crítica especializada a Jovem Guarda não tinha a preferência

O impacto de se trazer influências de outros países e um jeito mais desligado não agradava muito, principalmente considerando que antes desse sucesso, os gêneros que comandavam a roda eram a MPB e a Bossa Nova, que valorizavam a cultura nacional. 

Além do apelo estético, as letras eram outro motivo de crítica. Para muitos, eram apenas versos melosos e sem objetivo, feitos para exaltar o consumismo e alienar a garotada

É importante recordar que durante o período de gravação do programa da Jovem Guarda, entre 1965 e 1968, o Brasil vivia sob a repressão de uma Ditadura Militar, que tentava impedir os artistas de expressar suas opiniões e ideias contrárias ao governo. 

Pelo fato de os versos da Jovem Guarda serem mais leves e sem tom político, a censura com os cantores do ritmo eram mais brandas e isso gerava um sentimento de injustiça. 

Até por esse motivo, os nomes que faziam parte desse movimento eram vaiados em festivais por estudantes e militantes que cobravam maior posicionamento político deles. 

E ao mesmo tempo, outro importante momento da música nacional, com uma postura questionadora e a frente do seu tempo surgia: a Tropicália

Tropicália
Tropicália / Créditos: Divulgação

Formada por cantores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia e Chico Buarque, essa nova fase tinha uma nova cara e objetivos e contribuiu para que a Jovem Guarda perdesse força e cada artista seguisse seu rumo. 

O legado da Jovem Guarda

A saída de Roberto Carlos para estrear seu próprio programa solo mostrou que os próprios artistas queriam experimentar e dar novos passos em suas carreiras

A chegada de uma nova era na música brasileira dispersou os grupos e nessa busca por identidade, cada um buscou um jeito de reforçar sua identidade artística. 

Alguns mantiveram suas raízes no rock, como Erasmo Carlos e Eduardo Araújo, outros abraçaram a faceta romântica e se consolidaram dessa forma, como o próprio Roberto Carlos, que logo ficaria conhecido como o Rei

Roberto Carlos
Créditos: Divulgação

Por outro lado, a Jovem Guarda permitiu que outros ritmos ganhassem popularidade.

Por exemplo, Sérgio Reis se firmou na música sertaneja e junto com ele apareceram outros cantores e duplas que se fariam com que o gênero dominasse as paradas nas décadas seguintes, como Chitãozinho e Xororó. 

Décadas depois, os nomes que fizeram parte daquele momento são lembrados com muito carinho e nostalgia por muitos fãs, com homenagens em datas especiais, como na Virada Cultural de São Paulo em 2015, que celebrou os 50 anos da Jovem Guarda

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