Análise do samba-enredo da Beija-Flor em 2025: uma ode ao passado

Conheça o significado da letra do samba-enredo da Beija-Flor de Nilópolis e comece a sua torcida para o Carnaval 2025.

Analisando letras · Por Ana Paula Marques

4 de Fevereiro de 2025, às 12:00


Preparamos uma análise completa do samba-enredo da Beija-Flor em 2025 para você já ir entrando no clima da folia. A escola de samba de Nilópolis promete uma celebração histórica para o Carnaval carioca, unindo emoção, religiosidade e memória no enredo. 

Samba-enredo Beija-Flor 2025
Créditos: Reprodução / Youtube

Com o tema Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas, a agremiação presta uma homenagem ao inesquecível Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, conhecido como Laíla, uma das maiores figuras do Carnaval da azul e branca. 

O tributo, que também marcará a despedida de Neguinho da Beija-Flor, promete ser um espetáculo grandioso, honrando a memória e a contribuição incomparável de Laíla para a história da festa mais popular do Brasil. Veja só!

Beija-Flor 2025: análise do samba-enredo

O primeiro passo para fazer uma análise do samba-enredo escolhido pela Beija-Flor em 2025 é compreender quem, afinal, foi Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, conhecido como Laíla.

Figura lendária na história do Carnaval, Laíla teve uma carreira repleta de conquistas, tendo sido um dos mais influentes diretores da história da folia brasileira, conhecido por sua habilidade em transformar escolas de samba em potências na avenida. 

Obcecado pelos quesitos de chão, como harmonia e evolução, Laíla se tornou sinônimo de excelência, acumulando vitórias e revolucionando a forma como o desfile na Sapucaí era concebido. Só na Beija-Flor, foi peça-chave na conquista de 13 dos 14 títulos da escola.

Na agremiação de Nilópolis, Laíla passou quase três décadas, em diferentes períodos, levando muita ousadia, criatividade e momentos históricos para a avenida, como o desfile de 1989, em que a alegoria do “Cristo mendigo” desfilou coberta após ser censurada. 

O diretor criativo faleceu em 2021, aos 78 anos, vítima da covid-19, e deixou um legado imensurável para a cultura popular brasileira e para a Beija-Flor, que em 2025 busca celebrar a essência da genialidade de Laíla.

A parceria com Joãosinho Trinta, também homenageado no samba da Beija-Flor

Parceiros na Beija-Flor e no Salgueiro, Laíla e Joãosinho Trinta cultivaram uma amizade tão grandiosa quanto as obras que criaram juntos. Eles compartilhavam uma visão ousada para os desfiles, embora essa relação também tenha sido marcada por tensões criativas.

Um dos casos mais lembrados é o episódio do “Cristo”, no Carnaval de 1989. Laíla propôs a ideia de um Cristo que simbolizasse a luta contra a dor do povo brasileiro. Joãosinho, por sua vez, reinterpretou o conceito, apresentando a imagem de um “Cristo mendigo”. 

A ideia foi recebida com entusiasmo, mas a autoria gerou um atrito entre os dois. 

Após o desfile, que entrou para a história ao driblar a censura da Igreja Católica com um Cristo coberto por um pano preto e a famosa frase “Mesmo proibido, olhai por nós”, Laíla reafirmou sua contribuição criativa, mas a amizade com Joãosinho nunca mais foi a mesma.  

Em 2025, a Beija-Flor celebra essa relação em seu enredo, que não apenas homenageia Laíla, mas também recria, no plano espiritual, o reencontro de dois dos maiores gênios que o Carnaval já viu, encerrando um capítulo de genialidade, rivalidade e admiração mútua. 

Análise da letra do samba-enredo da Beija-Flor em 2025 

Além de celebrar a vida e obra de Laíla, uma análise do samba-enredo da Beija-Flor em 2025 revela temas como religiosidade, ancestralidade, luta social e a força da comunidade.

A letra é profundamente simbólica, cheia de referências à religiosidade afro-brasileira, às lutas e conquistas de Laíla, além de evocar emoção ao tratar de sua influência na comunidade do samba.

Uma celebração da fé afro-brasileira

Desde o início, o samba enredo invoca Kaô, saudação ao orixá Xangô, que simboliza justiça e equilíbrio. Essa abertura estabelece a dimensão espiritual da homenagem, pedindo orientação e proteção a Xangô para continuar os caminhos traçados por Laíla. 

A menção aos “ventos de Oyá”, orixá que governa os ventos e as tempestades, reforça a ideia de movimento, transformação e continuidade, características que marcaram a trajetória do homenageado.

Kaô meu velho!

Volta e me dá os caminhos

Conduz outra vez meu destino

Traz os ventos de Oyá

A letra é rica em referências às religiões de matriz africana: orixás como Oyá, Xangô e Ogum são invocados, o que evidencia a forte ligação de Laíla com suas raízes e ancestralidade.

A referência a Exu, por exemplo, simboliza a conexão entre o plano material e espiritual, representando a comunicação e a abertura de caminhos que Laíla trouxe ao samba. 

Traz o terço pra benzer

E a cigana puerê

Meu Exu

De copo no palco, sandália rasteira

No chão sagrado toda quinta-feira

Um ícone da luta contra o racismo

A letra também destaca a luta de Laíla contra o racismo. A expressão “brigou pela cor, catiço” e a menção à “favela” evidenciam o compromisso do carnavalesco com as causas sociais.

Ele era um homem de fala firme e posicionamento claro, enfrentando adversidades para garantir que o samba fosse mais do que entretenimento, mas uma ferramenta de inclusão e resistência social.

O brado no tambor, feitiço

Brigou pela cor, catiço

Coragem na fala sem temer a queda

O dedo na cara, quem for contra reza

O samba também exalta o legado de Laíla como um grande criador e líder, capaz de inspirar gerações e conquistar títulos, apontando sua habilidade de compor sambas que tornaram a Beija-Flor conhecida até fora do Brasil, “em outras terras”.

Vencer o seu verbo

Gênio do ouvido perfeito

A trança nos versos

Divino e humano em seu jeito

Queria paz mas era bom na guerra

Apitou em outras terras, viajou nas ilusões

No trecho acima, a expressão “queria paz, mas era bom na guerra” sintetiza muito bem o perfil de Laíla: um pacificador por natureza, mas que não hesitava em lutar quando necessário. 

Há também referências diretas ao amigo (e eventual rival), com alusões ao reencontro espiritual de Laíla com Joãosinho Trinta, outro ícone do Carnaval, como símbolo da continuidade de uma história repleta de arte, genialidade e emoção.

Chama João pra matar a saudade

Vem comandar sua comunidade

Óh Jakutá, o Cristo preto me fez quem eu sou

Receba toda gratidão Obá, dessa nação nagô

Ainda no trecho acima, o “Cristo preto” faz referência ao histórico desfile de 1989, que trouxe o “Cristo mendigo”, coberto de preto para burlar a censura por parte da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Samba-enredo Beija-Flor 2025
Créditos: Reprodução / Youtube

O legado de Laíla no samba-enredo da Beija-Flor

A canção é finalizada enfatizando a importância da comunidade para Laíla e a sua gratidão por ter feito parte da Beija-Flor. 

A expressão “terreiro de Laíla meu griô”, por exemplo, destaca ainda mais o papel do carnavalesco como um contador de histórias e guardião da tradição nilopolitana.

Da casa de Ogum, Xangô me guia

Da casa de Ogum, Xangô me guia

Dobram atabaques no quilombo Beija-Flor

Terreiro de Laíla meu griô

O trecho eleva Laíla ao status de griô, um sábio guardião da memória e das tradições do samba, colocando o terreiro, espaço sagrado e cultural, como um símbolo da perpetuação de seu legado.

As melhores músicas de Carnaval de todos os tempos

A análise do samba-enredo da Beija-Flor 2025 deixa claro que o Carnaval tem tudo para deixar um legado formidável e duradouro na história da música, tamanho seu poder de identificação com o povo. 

Você pode conhecer mais sobre o tema no conteúdo que preparamos sobre músicas de Carnaval, os melhores clássicos e hits!

Músicas do carnaval

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