26 de Janeiro de 2024, às 12:00
Se você está procurando uma análise do samba-enredo da Mocidade 2024, chegou ao lugar certo. Reunimos tudo que você precisa saber sobre uma das grandes apostas de hit do Carnaval neste ano!
A Mocidade Independente de Padre Miguel busca resgatar a sensualidade inerente ao espírito brasileiro, centrando-se na celebração do caju, uma fruta tropical que tem tudo a ver com o país.
Com o título Pede Caju Que Dou… Pé de Caju Que Dá!, o samba é assinado por uma equipe de compositores liderada pelo talentoso ator e humorista Marcelo Adnet, em colaboração com o veterano Paulinho Mocidade.
A música já “estourou a bolha” carnavalesca e chegou até a figurar na lista de hits virais do Spotify Brasil muito antes do Carnaval. Confira mais sobre a composição!
Ao fazer uma análise do samba-enredo da Mocidade 2024, percebe-se um inegável flerte nostálgico com os carnavais mais leves e vitoriosos da agremiação nos anos 1980 e 1990.
A música Pede Caju Que Dou… Pé de Caju Que Dá! é repleta de referências históricas, culturais e sociais, tecendo uma narrativa que vai muito além da simples apreciação do fruto, explorando a riqueza da brasilidade.
A proposta da escola de samba da Zona Oeste do Rio de Janeiro é revelar a essência do caju como um tesouro histórico brasileiro, remontando aos primeiros tempos da colonização.
A escolha do caju como tema revela uma proposta repleta de significado. A fruta, tão familiar aos brasileiros, é representada como um símbolo controverso e subversivo, refletindo a essência do país.
O caju, afinal, nasce de cabeça para baixo, tornando-se uma metáfora intrigante daquilo que desafia padrões convencionais. A fruta não apenas desperta paladares, mas também incita discussões sobre gostos e preferências.
A escola também busca resgatar a Tropicália, a partir da música Cajuína, composta por Caetano Veloso em homenagem a Torquato Neto, poeta piauiense e um dos fundadores do tropicalismo.
Desse modo, a escolha do fruto é uma afirmação da identidade brasileira, incitando reflexões sobre o que genuinamente representa o povo do Brasil.
Leia Mais: História das marchinhas de Carnaval: mais de cem anos de sucesso.
O enredo da Mocidade foi dividido em cinco atos para traduzir a importância do caju para a cultura brasileira.
O samba começa com uma reflexão sobre a tentação, associando o ato de consumir o fruto a um pecado.
A música destaca a representação da Tropicália nas músicas Cajuína e Morena Tropicana, de Caetano Veloso e Alceu Valença, respectivamente. Até o oi oi oi oi da música de Valença é citado no começo do enredo.
É Tropicália, tropicana, cajuína
Pela intacta retina, a estrela no olhar
Carne macia com sabor Independente
A batida mais quente, deixa o povo provar
Além disso, explora mais de 500 anos da história do fruto no Brasil, passando por temas como a disputa entre os maiores cajueiros do mundo, as influências da fruta nas artes brasileiras e, por fim, o caju no cotidiano do brasileiro.
A faixa também acena à antropofagia, um dos conceitos-base dos movimentos modernista e tropicalista brasileiros, para falar sobre a construção de uma identidade nacional.
Eu quero um lote saboroso e carnudo
Desses que tem conteúdo, o pecado é devorar
É que esse mote beira antropofagia
Desce a glote, poesiaPede caju que dá
Delícia nativaOnde eu possa pôr os dentes
Que não fique pra semente
Nem um tasco de mordida
Aí Tupi, no interior do cafundó
Um quiprocó virou guerra assumida
O enredo abrange desde a descoberta pelos povos indígenas à apreciação pela nobreza e a expansão do caju a terras estrangeiras, como se o fruto fosse, assim, uma representação direta do que é ser brasileiro.
Provou porã, provou fruta no pé
Se lambuzou, Tamandaré
O mel escorre, olho claro se assanha
Se a polpa é desse jeito, imagine a castanha
No trecho mencionado acima, constam algumas expressões que traduzem muito bem a cultura originária brasileira. Porã, por exemplo, pode ser associado a algo bonito, bom ou agradável na língua tupi-guarani.
Tamandaré, por outro lado, é uma suposta referência ao Almirante Tamandaré, uma figura importante na Marinha brasileira, famoso pelos serviços prestados durante a Guerra do Paraguai.
O samba-enredo da Mocidade continua com menções a grandes artistas e obras da arte modernista e tropicalista, citando figuras como Tarsila do Amaral, Jean-Baptiste Debret e até “Seu Luiz Inácio”, em referência ao presidente Lula.
Por outras praias a nobreza aprovou
Se espalhou tão fácil, fácil
E nessa terra, onde tamanho é documento
Vou erguer um monumento para Seu Luiz Inácio
Nessa batalha teve aperreio
Duas flechas e, no meio, uma tal cunhã-poranga
Tarsila pinta a sanha modernista
Tira a tradição da pista
Vai, Debret, chupa essa manga
O conceito de cunhã-poranga está relacionado a uma performance específica no Festival de Parintins, uma representação da mulher indígena mais bonita da aldeia e que enaltece a força das mulheres na cultura indígena.
Ou seja, não faltam referências à cultura e à história brasileira no samba-enredo da Mocidade!
Assim, tece uma homenagem à riqueza cultural do Brasil, destacando a importância do caju como metáfora para a própria Mocidade Independente de Padre Miguel. A escola de samba se apresenta como representante máxima da alegria brasileira e do Carnaval.
Meu caju, meu cajueiro
Pede um cheiro que eu dou
O puro suco do fruto do meu amor
É sensual esse delírio febril
A Mocidade é a cara do Brasil
A história por trás do enredo do caju surgiu de um dia descontraído do carnavalesco Marcus Ferreira na praia.
O artista estudava sobre o tema do samba-enredo para 2024 quando se deparou com um ambulante que vendia castanha-de-caju na faixa de areia.
Vestido de branco e verde, como um árabe, o vendedor compartilhou as origens da castanha, inspirando o carnavalesco a explorar esse tema surpreendente.
Marcus Ferreira, então, decidiu incorporar o caju ao enredo do samba, transformando a história da fruta em uma ode à Tropicália, movimento artístico que também faz parte da história da Mocidade.
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Ao fazer uma análise do samba-enredo de 2024 da Mocidade em comparação com os sambas apresentados nos últimos 10 anos, fica claro que a agremiação “recalculou” a rota para reencontrar o caminho do sucesso.
Com o tema Terra de meu Céu, Estrelas de meu Chão, a escola de samba da Zona Oeste do Rio ficou em penúltimo lugar no resultado do desfile do Grupo Especial.
Além da posição insatisfatória, a agremiação também lidou com diversos perrengues durante o desfile e chegou a ser multada em R$ 60 mil por atraso na remoção dos carros alegóricos na dispersão da Sapucaí.
Desse modo, em 2024 a aposta foi por distanciar a agremiação da tendência recente de sambas mais densos que desembarcaram na avenida desde 2016.
O samba Pede Caju Que Dou… Pé de Caju Que Dá! foi composto por uma talentosa equipe sob comando do ator e humorista Marcelo Adnet, em colaboração com o veterano Paulinho Mocidade.
A faixa é marcada por sua leveza e descontração, tendo conquistado o público antes mesmo de sua apresentação oficial na Sapucaí. Fenômeno nas redes sociais, o enredo chegou à lista Viral Rio de Janeiro BR do Spotify, à frente de nomes como MC Cabelinho.
A irreverência e o bom-humor presentes na letra prometem envolver os foliões, transportando-os para um desfile festivo e alegre: características marcantes dos grandes sucessos da Mocidade Independente de Padre Miguel.
Gostou da análise do samba-enredo da Mocidade 2024? Aproveite para cair na folia com uma super playlist de músicas de Carnaval que preparamos para você!
Você vai entrar no clima da festa do Momo com os maiores clássicos carnavalescos e as grandes apostas de hits para a festa em 2024, fica a dica!
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