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Fazer loginNão existe momento mais feliz que o carnaval. Por cinco dias no ano, as ruas são invadidas pela cor e pela música, e a alegria contagia o país inteiro. Essa é a mensagem trazida pelo samba-enredo da Viradouro para 2022.
Para demonstrar essa alegria, a escola de Niterói que foi campeã do carnaval carioca em 2020 apostou em uma história do passado: o carnaval da euforia, o maior carnaval de todos os tempos — foi assim que ficou conhecido o carnaval de 1919, primeiro depois da pandemia da Gripe Espanhola.
Com muita animação, várias referências e rimas ricas, o samba-enredo da Viradouro promete conquistar o coração dos amantes do carnaval. Se depender da escola, a festa na avenida vai ser garantida.
Aumenta o som e vem com a gente conferir a análise do samba-enredo da Viradouro para o carnaval 2022!
Com composição de Ademir Ribeiro, Devid Gonçalves, Fábio Borges, Felipe Filósofo, Lucas Marques e Porkinho, e interpretação de Zé Paulo Sierra, o samba eleito para o desfile da Viradouro em 2022 recebeu o título de Não Há Tristeza Que Possa Suportar Tanta Alegria.
O título é referência a um trecho de uma canção de baile do pré-carnaval de 1919, do Clube dos Democráticos, clube carnavalesco mais antigo do Brasil ainda em atividade. E é justamente para 1919 que o enredo da Viradouro pretende nos levar.
Em 2022, a escola vai destacar o sentimento dos cariocas na folia de 1919, que marcou a superação da pandemia da Gripe Espanhola e ficou conhecida como “o maior carnaval de todos os tempos”.
Hoje, enquanto o mundo vive a pandemia da Covid-19, na esperança do retorno dos carnavais, a Viradouro quis resgatar essa história para mostrar que a superação é possível, e que a alegria carnavalesca pode desbancar qualquer tristeza, por maior que ela seja.
A Viradouro é conhecida por inovar nos gêneros textuais na composição do samba-enredo, e neste ano não foi diferente. A escola apostou em uma carta, formato que aparece pela primeira vez no carnaval carioca.
A carta é assinada por um Pierrot Apaixonado, inspirada no tradicional personagem dos carnavais e na marchinha homônima composta por Noel Rosa em 1935.
Para entender a letra, precisamos entender o personagem que ela traz. Pierrot, que assina a carta, é um personagem da Commedia dell’Arte, estilo de teatro popular italiano. Na história original, Pierrot é o padeiro da corte, apaixonado por Colombina. Só que Colombina é apaixonada por outro personagem, o Arlequim.
Você já ouviu esses nomes em algum lugar, não é? Esses três papéis se tornaram famosos no mundo inteiro, e viraram as fantasias mais usadas nos primórdios do carnaval brasileiro. O samba da Viradouro é uma carta de Pierrot para Colombina, e ao mesmo tempo é uma carta dos brasileiros ao carnaval.
Amor, escrevi esta carta sincera
Virei noites à sua espera
Por te querer quase enlouqueci
Pintei o rosto de saudade e andei por aí
Por causa da pandemia de Gripe Espanhola que começou em 1918, várias atividades públicas precisaram ser canceladas para evitar a transmissão da doença.
Por isso, em 1919 os brasileiros esperavam apreensivos e ao mesmo tempo ansiosos pelo carnaval, sem saber se a folia realmente aconteceria. Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência.
A primeira estrofe retrata essa apreensão, e também faz referência à máscara de Pierrot, que “pinta o rosto de saudade”. Ao contrário do Arlequim, que é um palhaço cômico e malandro, o Pierrot é retratado como um palhaço triste, melancólico, que sofre por amor — assim como os brasileiros sofriam de saudades do carnaval.
Segui seu olhar numa luz tão linda
Conduziu meu corpo, ainda
O coração é passageiro do talvez
Alegoria ironizando a lucidez
Na segunda estrofe, vale destacar o trecho alegoria ironizando a lucidez, que chama atenção para o poder que o carnaval tem de usar as alegorias para retratar grandes questões políticas e sociais.
Senti lirismo, estado de graça
Eu fico assim quando você passa
A Avenida ganha cor, perfuma o desejo
Sozinho te ouço se ao longe te vejo
A terceira estrofe descreve o sentimento de euforia provocado pelo carnaval, que nos deixa em estado de graça. A mesma alegria de Pierrot ao ver sua amada.
Te procurei nos compassos e pude
Aos pés da cruz agradecer à saúde
Choram cordas da nostalgia
Pra eternidade, um samba nascia
O verso te procurei nos compassos é uma referência aos famosos bailes pré-carnaval, onde era possível sentir o gostinho da folia. Já o verso seguinte, aos pés da cruz agradecer à saúde, aqui traz um duplo sentido: podemos entendê-lo como agradecimento à divindade, ou à Cruz Vermelha, que foi extremamente importante no combate à Gripe Espanhola.
Nos dois últimos versos da estrofe, a letra faz referência ao choro, estilo que é um dos precursores do samba, e também à oficialização do samba como gênero musical, que aconteceu em 1919.
Não perdi a fé, preciso te rever
Fui ao terreiro, clamei: Obaluaê!
Se afastou o mal que nos separou
Já posso sonhar nas bênçãos do tambor
Apesar de todo o sofrimento da pandemia, o brasileiro não desistiu do carnaval, assim como Pierrot nunca desistiu de sua amada.
Permanece viva a esperança de superação e de rever a festa acontecendo nas avenidas. A estrofe retrata os clamores pelo fim da gripe ao citar Obaluaê, o orixá da cura.
Amanheceu! Num instante já
Os raios de sol foram testemunhar
O desembarque do afeto vindouro
Acordes virão da Viradouro
Tirei a máscara no clima envolvente
Encostei os lábios suavemente
E te beijei na alegria sem fim
Carnaval, te amo, na vida és tudo pra mim
Finalmente, depois de todo o sofrimento, no dia 5 de março de 1919 o Rio de Janeiro foi às ruas para celebrar o amor pelo carnaval. Uma folia inesquecível, que ficou marcada na história até mesmo de quem não viveu.
O verso tirei a máscara pode ser interpretado de duas formas: a liberdade de finalmente poder tirar as máscaras que protegiam contra o vírus da gripe, ou a retirada da máscara de saudades citada no começo da música, já que o Pierrot finalmente encontra sua amada.
A última estrofe antes da assinatura da carta traz a frase mais marcante da letra, que certamente vai ecoar na voz do público quando a Viradouro passar pela avenida: Carnaval, te amo, na vida és tudo pra mim!
Assinado: um Pierrot Apaixonado
Que além do infinito o amor se renove
Rio de janeiro, 5 de março de 1919
E aí, gostou de saber mais sobre o samba-enredo da Beija-Flor? Apostamos que você não quer perder nada do desfile.
Para te ajudar com isso, listamos os significados dos principais sambas-enredos de 2022! Confira:
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