Desolation Row

Violência e ironia social em "Desolation Row" de Bob Dylan

A música "Desolation Row", de Bob Dylan, começa com uma crítica direta à banalização da violência, ao mencionar a venda de cartões postais de enforcamentos. Essa referência remete aos linchamentos em Duluth, cidade natal de Dylan, onde fotos reais de violência racial eram comercializadas como lembranças. Logo de início, Dylan denuncia como o horror pode se tornar algo comum e até comercializado, preparando o terreno para a sequência de personagens históricos, literários e fictícios que aparecem ao longo da canção em situações absurdas e decadentes.

Dylan mistura figuras como Cinderela, Einstein, Ofélia, Casanova, T.S. Eliot e Nero, retirando-os de seus contextos originais e colocando-os em um cenário caótico e desiludido. Exemplos como Einstein "disfarçado de Robin Hood" ou Casanova sendo "alimentado à força" e depois "morto com autoconfiança" ironizam a busca por sentido, heroísmo e genialidade. A letra sugere que, em Desolation Row, todos estão presos em papéis caricatos, vítimas de um espetáculo grotesco – uma influência dos shows de menestrel que Dylan presenciou na infância, como ele mesmo relatou. O tom irônico permanece até o final, quando o narrador afirma conhecer todos os personagens, mas que precisou "rearranjar seus rostos e dar a eles outros nomes", indicando que todos compartilham a mesma sensação de alienação e vazio.

Assim, "Desolation Row" faz uma crítica ácida à sociedade moderna, onde violência, espetáculo e alienação se misturam em um cenário surreal. O local descrito é ao mesmo tempo específico e universal, funcionando como metáfora para qualquer contexto em que o absurdo e a desesperança se tornam parte do cotidiano. Dylan, com sua ironia, convida o ouvinte a perceber que esses elementos não são distantes, mas presentes no dia a dia e, muitas vezes, em nós mesmos.