Tombstone Blues

Crítica social e ironia em "Tombstone Blues" de Bob Dylan

Em "Tombstone Blues", Bob Dylan utiliza uma ironia afiada ao misturar personagens históricos e fictícios, como Paul Revere, Belle Starr e Jack, o Estripador, em situações absurdas que refletem o caos social e político dos anos 1960. Ao colocar heróis, vilões e lendas em papéis burocráticos ou ridículos, Dylan expõe a falência dos valores tradicionais e a hipocrisia das instituições. O verso “the reincarnation of Paul Revere's horse” (a reencarnação do cavalo de Paul Revere) ironiza a busca por líderes do passado, mostrando que soluções antigas não resolvem os problemas atuais.

A crítica ao governo de Lyndon B. Johnson e à Guerra do Vietnã aparece de forma mordaz, especialmente em “John the Baptist after torturing a thief / Looks up at his hero the Commander-in-Chief” (João Batista, depois de torturar um ladrão / Olha para seu herói, o Comandante-em-Chefe). Dylan mistura figuras religiosas e políticas para questionar a moralidade dos líderes, reforçado pelo trocadilho “The Sun's not yellow, it's chicken” (O sol não é amarelo, é covarde), apontando para a falta de coragem do governo. O refrão – “Mama's in the factory, she ain't got no shoes; Daddy's in the alley, he's lookin' for food; I'm in the kitchen with the tombstone blues” – resume o desamparo da classe trabalhadora, presa em um ciclo de pobreza e desesperança, enquanto o narrador se vê cercado pelo "blues da lápide", uma metáfora para a sensação de morte iminente ou estagnação social.

Dylan também satiriza a cultura e o conhecimento institucionalizado, como em “the National Bank at a profit sells / Road maps for the soul / To the old folks home and the college” (o Banco Nacional vende com lucro / Mapas da alma / Para o asilo e para a faculdade), zombando da ideia de que instituições financeiras ou educacionais possam dar sentido à vida. Ao final, ele reconhece a inutilidade de buscar alívio em "uma melodia tão simples" diante do caos. "Tombstone Blues" é um retrato ácido de uma sociedade perdida, onde autoridades e soluções tradicionais são ridicularizadas frente à dura realidade cotidiana.