Tripolar

Identidade dividida e resistência em "Tripolar" de Canserbero

Em "Tripolar", Canserbero explora sua identidade dividida em três personas: Tyrone, Canserbero e "le poète maudit". Essa divisão faz referência ao Cérbero da mitologia, simbolizando as diferentes facetas do artista. Tyrone representa o homem comum, marcado por "cicatrices mentales" (cicatrizes mentais) e uma rebeldia que nasce das desigualdades sociais. Canserbero é o rapper combativo, que "ataca a novatos nacos" (ataca novatos tolos) e se recusa a se submeter. Já "le poète maudit" traz o lado mais introspectivo e poético, assumindo o papel do artista incompreendido e marginalizado, como sugere o termo francês.

A música também destaca o orgulho das origens e a denúncia social, especialmente no refrão: "Venezuelan flow to all over the World" (Flow venezuelano para todo o mundo). Canserbero reforça sua ligação com o rap dos anos 90 e com a realidade dos bairros, dizendo que suas músicas são "hojas de mis diarios con el que se identifican varias decenas de barrios" (páginas dos meus diários com as quais vários bairros se identificam). Metáforas como "soy un Don Quijote" (sou um Dom Quixote) mostram sua luta contra injustiças, enquanto versos como "mi corazón es de piedra, por mis venas corre mierda" (meu coração é de pedra, por minhas veias corre merda) evidenciam as marcas emocionais profundas. A referência ao "yin, el yang" (yin e yang) reforça a ideia de equilíbrio entre extremos, mostrando que Canserbero se recusa a ser rotulado de forma simplista.

No fim, "Tripolar" é uma afirmação de resistência e autenticidade. Canserbero transforma suas dores e inquietações em arte, usando o hip-hop como ferramenta de expressão e transformação social. A música funciona como um desabafo pessoal e um manifesto coletivo, conectando suas experiências às lutas de muitos e reafirmando seu papel como voz dos marginalizados.