Comida Amarga

Relações e cicatrizes em "Comida Amarga" de Carne Doce

"Comida Amarga", da banda Carne Doce, utiliza a metáfora da comida para retratar o que resta após o fim de um relacionamento. O que antes era doce se transforma em algo difícil de engolir, e a pessoa acaba consumindo essas "sobras" com resignação. O trecho “Eu cato as sobras / Dos teus sinais / Eu sou a sobra / Junto com as sobras / Eu não sou mais” deixa clara a sensação de perda de identidade e valor, um sentimento de quem se vê reduzido ao que sobrou da relação. Essa abordagem direta e confessional é uma característica marcante do trabalho de Salma Jô e do álbum "Tônus".

A letra também revela a vulnerabilidade de quem, mesmo tentando se despedir, permanece presa ao passado e ao desejo de ser desejada novamente. Isso aparece em versos como “Mas Deus bem sabe / O quanto eu rezei / Pra ser vulgar como um anjo”, que misturam o desejo de pureza com a entrega carnal, mostrando o conflito entre o sagrado e o profano. O sal, citado na segunda metade da música, amplia o sentimento de dor e tentativa de cura: “Eu jogo sal / Que é barato e antisséptico” sugere a busca por cicatrização, mesmo que dolorosa. O videoclipe reforça essa ideia ao mostrar Salma Jô sozinha diante do espelho após uma festa, simbolizando a busca por pertencimento e a constatação da solidão. "Comida Amarga" se destaca pela honestidade ao abordar o esgotamento do desejo e o processo de lidar com as sobras de um amor que já não alimenta, mas ainda machuca.