Closer To You

“Closer To You”: desejo que cresce com o dano emocional

Em “Closer To You”, o autotune não é só estética: Clairo disse que ele funciona como uma “parede” na comunicação, e isso conversa com a letra que transforma ferida em atração. Quando ela canta “The things you do only make me want to get closer to you” (As coisas que você faz só me fazem querer ficar mais perto de você), expõe o paradoxo de se aproximar quanto mais dói. A voz soa cansada e lúcida — “Shut up... I’m fed up” (Cala a boca... Estou de saco cheio) —, mas presa ao ciclo: “Wish I could say it was enough to make me walk away; I know it won’t change” (Queria poder dizer que isso bastaria para eu ir embora; eu sei que não vai mudar). O timbre impassível do autotune reforça essa anestesia emocional: ela narra do fundo do poço, sem conseguir sentir plenamente.

A história é direta e dolorida: “You call me late at night, I pick up every time” (Você me liga tarde da noite, eu atendo toda vez), enquanto o alerta familiar ecoa — “Mama said: I told you so” (Mamãe disse: Eu te avisei). Há tentativas de reação seguidas de recaída — “every time I start to get up” (toda vez que começo a me reerguer). Ao afirmar “You know this street runs two ways” (Você sabe que essa rua tem duas mãos), ela busca reciprocidade, mas logo admite bloquear os avisos externos: “I can’t hear the background noise, anyway” (De qualquer forma, não consigo ouvir o barulho de fundo). Como Clairo comentou ao falar de Immunity (2019), co-produzido com Rostam Batmanglij, a produção minimalista — poucos elementos, muito espaço e a camada robótica — espelha a dificuldade de conexão real, a frustração contida e a resignação que atravessam a faixa.