Mi Lista Negra

Humor ácido e crítica social em “Mi Lista Negra”

“Mi Lista Negra”, do El Cuarteto de Nos, usa o humor ácido para transformar mágoas e ressentimentos em uma espécie de troféu pessoal. O narrador constrói uma lista de desafetos que vai de políticos e parentes até personagens literários, como Romeo e Julieta, mostrando que ninguém está a salvo de suas críticas. O tom irônico aparece em situações cotidianas, como “la que no volvió diciendo: Voy al baño y ya vuelvo” (aquela que não voltou dizendo: Vou ao banheiro e já volto) e “ese que se fue con lo prestado diciendo: Ya te lo devuelvo” (aquele que foi embora com o que pegou emprestado dizendo: Já te devolvo). Até mesmo figuras da infância, como a “maestra demente que me dio aguardiente en el kinder” (professora maluca que me deu aguardente no jardim de infância), entram na lista, reforçando o tom irreverente da música.

A letra faz uma sátira das decepções interpessoais e sociais, sem poupar ninguém: “En mi lista hay traidores, hay deudores, acreedores y rencores que una vez fueron amores” (Na minha lista há traidores, devedores, credores e rancores que um dia foram amores). A crítica aos políticos é direta e debochada, como em “legisladores de varios partidos... algunos se lucen por tener menos luces que apellidos” (legisladores de vários partidos... alguns se destacam por ter menos inteligência que sobrenomes). O uso de rimas e comparações exageradas, como “mi lista es más peligrosa que una piraña en el bidet” (minha lista é mais perigosa que uma piranha no bidê), reforça o tom cômico, mas também revela um fundo de amargura. No final, a lista negra é apresentada como um mecanismo de sobrevivência emocional: “Mi lista es mi tratamiento en épocas de abatimiento... es mi primer y único mandamiento” (Minha lista é meu tratamento em épocas de desânimo... é meu primeiro e único mandamento). A música sugere que todos têm suas listas negras, mas poucos expõem isso com tanta irreverência.