Árido (part. Baratapai)

“Árido (part. Baratapai)”: dureza, guia e consequências

Em “Árido (part. Baratapai)”, Dalsin transforma o pedido de desculpa em ferramenta de comando. O “Fiz mas nunca foi por mal” convive com o gesto de cobrar e orientar quem está perto. O refrão “Doce igual uma pedra de sal” amarra afeto e aspereza e define a dureza necessária que sustenta o relato. A letra assume tropeços com frieza — “Eu sou falho” — e converte ataque em força: “as pedra que cês me tacou... uso pra contar vantagem cada cicatriz”. Ele revisita ambições materiais — “uma hornet, um Nike, um nextel” — que não trouxeram a paz esperada, deslocando o foco para propósito e responsabilidade.

As imagens amarram essa ética. “Mostrar o norte pelo sol” sugere guiar no improviso, sem bússola, liderando pelo exemplo quando não há caminho pronto. “Deixar descer temporal” marca consequências da cobrança: se endurece, a chuva pesa. As menções a São José, aos conselhos do pai e a nomes próximos (“Kayky”, “Tio boy”) ancoram lealdade e perda, com gente que “chegou ao fim” e outros que seguem caindo. “No Boombap um satan*s” explicita a estética crua, coerente com o título árido. A presença de Baratapai — colaborador frequente da fase recente de Dalsin, que também rende discos com Gio, Dj Gui e outros produtores — reforça a sonoridade direta, sem verniz. O arco é de cobrança e reinvenção tardia: “dei certo tarde demais”, mas agora há promessa de entrega — “jajá aí vem disco” — e ambição com a régua alta. O duplo sentido de “o inferno é soldout” alerta para o espetáculo lotado de atitude vazia e o preço de vender-se. No fim, culpa contida, orgulho das cicatrizes e foco em guia e consequência se traduzem em disciplina e trabalho.