Macunaíma

“Macunaíma”: ancestralidade, resistência e festa no Brasil atual

A música “Macunaíma”, de Daniela Mercury, reinventa o personagem criado por Mário de Andrade como símbolo de resistência ecológica e cultural, aproximando a ancestralidade indígena das lutas ambientais e sociais do presente. A repetição do nome “Macunaíma” e o jogo com as sílabas (“Ma / Cú / Na / Íma / Ríma”) remetem à irreverência do personagem e à ideia de mistura, que são marcas do modernismo brasileiro e da antropofagia cultural. Isso fica claro no verso “Vá-sína an-tro-po-fágica / Me aplica tua má-gica”, referência direta ao movimento modernista de 1922, que defendia a apropriação e transformação de influências estrangeiras para criar uma identidade nacional. A letra ainda cita explicitamente a “Semana de arte moderna” e nomes como Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti, reforçando esse diálogo com a história da cultura brasileira.

A canção mistura crítica social e ambiental com celebração da cultura nacional, como nos versos “Império derrete / Humana floresta / Gente manifesta”, que contrapõem a decadência do poder colonial à força da natureza e do povo. Daniela Mercury atualiza o discurso modernista ao trazer temas atuais, como a pandemia e a crise climática, em versos como “pós pandemia / explode alegria / Carnavália dois mil e vinte e dois / sangria / mundo que tá pra acabar depois”. A defesa dos povos indígenas e da natureza aparece de forma clara e urgente, especialmente em “Terra mãe de todes / Terra que somos nós” e “Não vamos deixar / Vamos juntar / Energia humana / Natureza”. O contexto das apresentações ao vivo e o remix afro-house reforçam a proposta de unir crítica, festa e resistência, transformando a música em um manifesto coletivo e celebratório.